Reformas inovadoras começam pela própria liderança, declara Jorge Gerdau

Jorge Gerdau Johannpeter fala sobre a importância da inovação em um mundo em constante mudança: “gerar uma cultura aberta à inovação passa a ser a grande vantagem competitiva”.

Maior produtor de aços longos no continente americano, o Grupo Gerdau tem usinas siderúrgicas no Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos e Uruguai, além de 40% de participação societária na empresa Sidenor, da Espanha. O faturamento da empresa em 2005 foi de R$ 25,5 bilhões e a produção de aço chegou a 13,7 milhões de toneladas. 

À frente do grupo desde 1983 e mentor da internacionalização do grupo, Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho Diretor da Gerdau e do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP), fala sobre a importância da inovação em um mundo em constante mudança: “gerar uma cultura aberta à inovação passa a ser a grande vantagem competitiva”. Para ele, “impulsionar reformas inovadoras é um trabalho que deve começar pela própria liderança, a qual deve fazer com que isso se torne um desafio de todos”. 

Gerdau defende ainda que a inovação não precisa ser sempre espetacular. A observação rotineira do negócio, especialmente das necessidades do cliente, pode dar ao líder as respostas para que ele mantenha sua empresa à frente da concorrência. Além disso, o empresário diz que o empresário brasileiro ainda investe muito pouco em inovação. 

Em sua Política de Qualidade, a Gerdau busca “criar condições para que as pessoas, no exercício de suas funções, se realizem como profissionais e indivíduos". Esta filosofia ajuda a fomentar um ambiente inovador na empresa? Uma empresa com profissionais motivados tem mais condições de inovar? 
Um dos pontos importantes são os valores do Grupo Gerdau, que geram um clima organizacional que propicia o trabalho em equipe, incentivo ao desenvolvimento intelectual e à experimentação, ao emprendedorismo, à busca de resultados e ao uso de benchmarks. Um bom clima organizacional incentiva à criatividade das pessoas e é um dos ingredientes para se desenvolver um ambiente inovador. Na última pesquisa realizada pela consultoria internacional Hay Group, que avaliou a gestão de clima das principais empresas do País nos últimos dois anos, o Grupo Gerdau conquistou a primeira colocação. O índice de aprovação foi de 80% entre os mais de 15 mil colaboradores que participaram da avaliação. O número é 24 pontos percentuais acima da média de mercado.
Temos como um de nossos Valores “Pessoas Realizadas” que impulsiona as pessoas, para utilizarem toda a sua inteligência, criatividade e inovação. Evidentemente, profissionais motivados conseguem ir mais longe no quesito inovação.


Qual o peso de inovar em uma empresa em constante expansão como o Grupo Gerdau?
A constante implantação de novas tecnologias de produção em equipamentos e processos, de gestão e melhorias no relacionamento com clientes, assim como a gestão das pessoas, tem ajudado a impulsionar a expansão da Gerdau.

O senhor poderia citar algum exemplo prático de inovação ocorrido na Gerdau que tenha gerado vantagens competitivas significativas?
A tecnologia no processo de aciaria, como a implantação de fornos panela, lingotamento contínuo de aços especiais, além da estruturação de células operacionais nas áreas industriais, são alguns exemplos de inovações que geraram vantagens competitivas significativas. O próprio Sistema de Gestão da Gerdau (GBS), por meio do intercâmbio de melhores práticas dentro e fora da empresa, fomenta a busca pela inovação. Podemos destacar também a Gestão com Foco no Operador, que valoriza o profissional e suas tarefas, proporcionando a estabilização dos processos, o comprometimento e o desempenho superior das pessoas.

Qual o fator-chave para uma empresa criar uma cultura de inovação?
Para evoluir, é preciso assumir a inovação como uma atitude, incorporada à cultura da organização. Impulsionar reformas inovadoras é um trabalho que deve começar pela própria liderança, a qual deve fazer com que isso se torne um desafio de todos. Em um mundo em constante mudança, gerar uma cultura aberta à inovação passa a ser a grande vantagem competitiva. O contínuo exercício da auto-avaliação é, antes de tudo, o primeiro passo para o processo de aprendizagem e de transformação. A inovação precisa atribuir diferencial ao negócio frente à concorrência no mercado. 
A inovação, porém, não fica restrita às grandes idéias ou invenções. Por meio da observação do dia-dia e da opinião dos clientes, fornecedores, departamentos de pesquisa das universidades e da comunidade, o empresário pode achar as respostas necessárias para o seu negócio. Quem não inova, provavelmente será superado pela concorrência, e em pouco tempo deixará de atender às expectativas de seus clientes, as quais são sempre crescentes. A caminhada da melhoria na gestão não termina nunca. 


É consensual que no Brasil é fraco o envolvimento das empresas na busca por inovação com base em P&D. Ao contrário de outros países, são as universidades, e não as empresas, que respondem pela busca de inovação. Por que isso ocorre? A universidade brasileira está preparada para atender essa demanda, para cobrir essa falta de engajamento das empresas?
É fundamental o desenvolvimento de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas organizações, reunindo cientistas, engenheiros e pesquisadores que se dediquem aos objetivos da empresa, conectando as inovações ao mercado. No entanto, o Brasil tem um quadro diferente de países mais desenvolvidos. Apenas 11% dos 80 mil pesquisadores estão ligados a empresas privadas que mantêm atividades de P&D. O motivo, em primeiro lugar, é que o retorno dessa atividade vem a médio e longo prazo e a instabilidade da economia brasileira desestimula os investimentos na área. Apesar de as empresas ainda terem um caminho longo a percorrer no que se refere ao investimento em pesquisa e desenvolvimento, o trabalho desenvolvido pelas universidades tem sido fundamental, pois está focado em grandes descobertas, analisadas a médio e longo prazo, mostrando tendências e inovações de grande importância. A principal diferença entre o investimento em pesquisa nas universidades é que ele é focado em ações de maior escala do que as empresas, que, em geral, investem em pesquisa voltada ao seu negócio, para resultados de curto e médio prazo. Uma pesquisa sobre inovação liderada pela Fundação Dom Cabral reforça essas questões. Segundo ela, há dois fatores que limitam a inovação na América Latina. O primeiro é o baixo investimento feito pelo setor privado em P&D. Em 2004, por exemplo, o setor privado investiu no Brasil o equivalente a US$ 14 per capita em P&D; no Chile, US$ 8,67; no México, US$ 7,30, e na Argentina, US$ 2,75. Enquanto isso, os países que estão se destacando em inovação e competitividade, como Coréia do Sul e Irlanda, investem US$ 254 e US$ 213 por habitante, respectivamente. Um segundo fator é interno das empresas, dado por sua relutância em enfrentar riscos e mudar sua cultura. Uma pesquisa feita no ano passado pela escola de negócios da Fundação Dom Cabral revelou que 85% das empresas brasileiras se mostravam preocupadas com o tema, mas somente 15% delas estavam realizando alguma ação concreta para inovar.

Há o DNA da inovação no profissional brasileiro? Temos características interessantes, como a criatividade, mas na soma geral o nosso nível educacional é baixo. Temos muito a caminhar?
O brasileiro coloca paixão, criatividade e talento quando cria projetos inovadores. A criatividade é uma de suas características mais fortes e aí reside parte de sua competitividade nessa área. No entanto, para que se convertam em ações práticas ainda há um longo caminho a percorrer, porque até o momento temos ilhas de excelência, e as empresas que inovam são exceções. 

Como políticas públicas podem colaborar para que as empresas passem a investir mais em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento?
O País vem dando passos em direção à inovação. Há uma vontade política, respaldada por ações de incentivo à cultura inovadora e de promoção a exportações em tecnologia. O congresso brasileiro aprovou no final de 2004 a Lei de Inovação, integrando a academia às empresas, reduzindo a burocracia e permitindo que os pesquisadores trabalhassem em regime de projeto temporário para as empresas e receber royalties a partir de seus trabalhos. Outra medida prática para incentivar a inovação no Brasil é aumentar a velocidade do registro de projetos e patentes. A Lei da Inovação foca na produção de novos produtos, o que é apenas uma parte do processo de inovação em uma empresa, mas não é pouco. Um projeto aprovado no Congresso diminui em 1% o spread bancário (juros sobre a taxa básica) de empréstimos do BNDES para setores que estimulam a inovação. O Brasil precisa dar maior incentivo aos pesquisadores nas universidades e institutos de pesquisa e buscar integrá-los às empresas.

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