Os desafios de uma gestão independente

Para presidente-executivo da FNQ, é preciso coragem para propor e executar planos de mudança

Em tempos em que se relembra a independência brasileira, é comum refletir como o fato revolucionou as relações, o desenvolvimento e a gestão do País. Da mesma forma, é importante observar como o ímpeto por mudanças é essencial em momentos de crise. 
 
Em comemoração da Independência do Brasil, em 7 de setembro, entrevistamos o presidente-executivo da FNQ, Jairo Martins, que refletiu sobre os desafios e apontou caminhos para transformações na gestão brasileira. Confira:
 
Da independência do Brasil até hoje, quais foram as principais mudanças em relação à gestão do País?
 
Embora tenha havido mudança simbólica significativa com o Brasil saído do julgo português, na prática, logo no período seguinte, pouco aconteceu de diferente, pois a gestão no Brasil seguia o modelo burocrático e cartorial português. Depois, com a libertação dos escravos e a Proclamação da República, com um modelo laboral e político diferentes, houve alguma alteração no cenário, embora o “espirito português” de gestão ainda se fizesse presente. Hoje, quase 200 anos após a independência do Brasil, a nossa gestão, na média, ainda apresenta resquícios da época da Colonização, que afetam a produtividade das organizações e a competitividade do Brasil, tais como burocracia, corporativismo, falta de visão sistêmica e arranjos individuais. Infelizmente, talvez pelo momento crítico atual, estamos um tanto céticos quanto à evolução da gestão no País.   
 
Você acredita que a independência do Brasil pode servir de exemplo para os gestores? Por quê?
 
Buscar a independência é sempre uma atitude empreendedora, além de ser uma disposição para mudar. Os movimentos pró-independência, surgidos em diversas regiões do Brasil, demonstraram que havia um certo descontentamento em relação ao controle português. No ambiente de atuação das organizações, o mesmo conceito se aplica – é sempre preciso perseguir a melhoria. Este é o papel de qualquer gestor - usar bem os recursos para gerar valor, seja em uma organização pública, privada, do terceiro setor ou mesmo nos governos. Hoje, o mundo tem um desafio de ter gestores transformadores, que tenham coragem de mudar, como nos mostrou D. Pedro I. Esse é o aprendizado que fica.
 
Na sua opinião, é fundamental que um empreendedor seja independente para poder gerir sua organização?
 
É fundamental que o empreendedor seja independente, não apenas do ponto de vista financeiro, mas, principalmente, do ponto de vista ético e da honestidade. O momento atual do Brasil, com tantos escândalos de corrupção, mostra que evoluir na base de “conveniências entre compadres” não garante independência. Quantos executivos de empresas e dirigentes de organizações foram capas de revistas por terem sucesso na condução das suas empresas? Quem o fez de forma correta está independente, mas quem optou por caminhos não éticos percebeu que a sua falsa independência não se sustentou. 
 
Declarar independência de terceiros pode ser providencial para o sucesso de uma organização? Por quê? Como um líder
se destaca nestes momentos?
 
É preciso não ser radical nesse processo. A empresa deve se concentrar no seu “core business” e, portanto, precisa de um trabalho colaborativo com terceiros. O que ela necessita é ter uma apurada gestão de riscos para o caso de eventual descontinuidade de parcerias estabelecidas. A verticalização nem sempre é sinônimo de eficiência e eficácia. O bom líder tem de saber fazer uma boa gestão de conhecimento associada a uma boa gestão de parceiros. O sucesso depende da excelência como esses processos são administrados.
 
Você acredita que, ainda hoje, o Brasil precisa declarar independência de algo? Por quê?
 
O Brasil precisa declarar-se independente da corrupção, da má gestão, dos “políticos paroquiais” e dos “empresários de conveniência”. Esses fatores são verdadeiras pragas, que destroem a confiança da população e dos investidores internacionais. É urgente declararmos independência dessas “drogas”.
 
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