Entrevista com Pedro Luiz Passos

Pedro Luiz Barreiros Passos é presidente do Conselho Curador da FNQ e sócio-fundador da Natura.

 

Pedro Luiz Barreiros Passos é presidente do Conselho Curador da FNQ e sócio-fundador da Natura. Graduado em Engenharia de Produção pela USP e Administração pela FGV, ingressou no setor de cosméticos em 1983, como gerente geral da YGA, que fabricava e comercializava produtos de perfumaria e maquiagem com a marca L'Arc en Ciel. Em 1998 passou a Presidente de Operações da Natura e, em 2005, tornou-se Co-presidente do Conselho de Administração da empresa. Em 2003, integrou o Conselho Curador da Fundação Nacional da Qualidade e em 2005 passou a ser Presidente do Conselho. É também membro do Conselho Administrativo da Câmara Americana de São Paulo e do Conselho da Fundação SOS Mata Atlântica. Aqui, Passos responde a perguntas sobre o fundamento liderança com exclusividade para a FNQ em Revista. Para ele, o Brasil já avançou muito nesse atributo, especialmente no setor privado, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, especialmente pelas lideranças públicas. Passos defende o trabalho da FNQ como grande disseminador no País dos conceitos da excelência em gestão.


FNQ em Revista – O que a FNQ realiza para difundir os conceitos de liderança no Brasil, dentro dos preceitos de excelência em gestão?
Pedro Passos
 – Nos últimos quinze anos a FNQ vem disseminando o Modelo de Excelência da Gestão®  baseado nos fundamentos de excelência e desenvolveu um sistema bastante robusto de critérios de autoavaliação e avaliação das empresas, o que permite a criação de padrões de referência com relação às principais organizações mundiais. Além de permitir um diagnóstico da empresa, esses critérios tornam possível a comparação com outras organizações mundiais e constituem uma excelente matéria-prima, uma base para o processo de planejamento estratégico e para o plano de ação. A FNQ vem fazendo isso a partir da divulgação dos próprios casos concretos das melhores práticas das empresas membros à FNQ.


FNQ em Revista – Sob essa ótica de excelência em gestão, pode-se afirmar que as empresas brasileiras contam com bons líderes?
Pedro Passos
 – Talvez até pelas dificuldades do cenário econômico, pela volatilidade do ambiente externo, o Brasil desenvolveu um conjunto de líderes, sob a ótica da gestão, bastante importantes. Tanto que hoje encontram-se líderes de origem brasileira comandando muitas empresas multinacionais. Essa experiência do líder brasileiro decorre da convivência com uma economia sofisticada nos diversos setores, serviços, indústria,  agroindústria, o que transforma o Brasil em uma economia forte. E não se faz uma economia forte sem bons líderes.


FNQ em Revista – E quanto aos homens que conduzem as organizações públicas brasileiras, há bons líderes entre eles?
Pedro Passos
 – Pensando principalmente na excelência em gestão, quando se pensa nas lideranças públicas e na dimensão de País, de governo, nas suas diversas esferas, nos três poderes, infelizmente a gestão ainda não é um tema que entrou na agenda de forma definitiva, raras são as exceções. Mas sou otimista, houve muita evolução nos últimos dez anos. Pode não parecer, mas houve avanço no trato do dinheiro público com eficiência. O Brasil tem elementos de gestão mais robustos: responsabilidade fiscal, orçamentos e até marcos regulatórios que, se não são perfeitos, são muito melhores do que os que havia há dez anos. Apesar de o tema ainda não ter se tornado plataforma de atuação de muitas de nossas lideranças, principalmente as políticas, ainda existe evolução. No entanto, acredito que, tanto no setor governamental como no terceiro setor, há um enorme espaço para que se estabeleçam e cresçam os conceitos e práticas de gestão, levando a uma maior efetividade e produtividade na gestão de recursos da sociedade. 


FNQ em Revista – Usando como base sua própria experiência profissional, como o líder deve conduzir o processo de definição dos valores e objetivos da empresa?
Pedro Passos
 – Em primeiro lugar, o processo de definição de valores deve ter legitimidade. Não se deve definir valores porque estão na moda ou porque são oportunos. O líder deve trazer sua visão de mundo para a empresa, para a organização - e trazer no DNA aquilo em que ele acredita, seus valores, suas crenças, para que possa introduzir isso com legitimidade na organização. O bom líder vai captar esses valores, pois precisa estar atento às demandas de fundo, aos valores emergentes da sociedade. A própria perenização da organização empresarial depende do valor que essa organização gera para a comunidade, para a sociedade mais ampla. O líder deve ter a compreensão de que a empresa é um organismo vivo, inserido na sociedade e sabe que os valores e crenças estão na origem da personalidade e da identidade da empresa. O bom líder tem essa compreensão, essa visão de que a empresa é um ator dentro do campo social. 


FNQ em Revista – Quais os principais papéis que o líder deve desempenhar dentro das organizações?
Pedro Passos
 – São dois: o primeiro é disseminar e preservar valores e o segundo, formar lideranças capazes de estar alinhadas com esses valores e percorrer o mesmo sentido, buscar as mesmas causas.


FNQ em Revista – E a empresa, o que deve buscar em seus líderes?
Pedro Passos – Autonomia, integridade e pessoas que efetivamente acreditem nas mesmas coisas que a empresa se propõe a fazer, buscar esse alinhamento de valores. É óbvio que a empresa vai buscar também competência técnica, energia, empreendedorismo, capacidade de fazer, mas acho que o fundamental é esse senso e essa busca pelo objetivo comum.


FNQ em Revista – Os líderes nas organizações brasileiras hoje têm que perfil: o de motivadores ou de comandantes?
Pedro Passos
 – Vejo organizações que têm líderes atuando de forma diferente: um dita ordens e controla e outro que procura ir além do motivar, mas inspirar as pessoas. Há organizações de sucesso comandadas pelos dois perfis de líderes, um mais autocrático, mais fechado e uma liderança mais inspiradora. 


FNQ em Revista – Não existe um perfil de líder melhor do que o outro?
Pedro Passos – Penso que passamos por uma transição, e o futuro vai indicar para organizações mais abertas, até porque os indivíduos hoje têm mais autonomia, acesso à informação, mais participação e escolhas. Então a minha percepção é de a tendência é que tenhamos mais organizações e empresas em que os líderes fazem o papel de estimular a visão de futuro, inspirar as pessoas numa direção, com sistemas mais orgânicos e mais abertos que vão funcionar em tempo real, onde estiverem de acordo com aqueles valores.


FNQ em Revista – A universidade brasileira sabe formar lideranças?
Pedro Passos
 – Embora tenha conteúdo técnico muito bom, sinto ainda a universidade brasileira afastada das organizações. A liderança também é um acúmulo de experiências. O líder não se forma a partir exclusivamente de teorias e estudo, é preciso exercitar a dinâmica da liderança. E, nesse sentido, a universidade poderia estar mais próxima da sociedade em geral, das organizações, do governo, das entidades privadas, das empresas, para trazer essa experiência e essa vivência para o aprendizado.

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