Entrevista com Enrique Jara, da Plamex

Enrique Jara, da Plamex, ressalta importância das pessoas para se atingir níveis de excelência.

Sem a participação de todos é impossível alcançar esses níveis de competitividade. As pessoas são o motor principal dessas conquistas”, diz Enrique Jara, diretor de Tecnologia da Informação da Plamex (Plantronics México), sobre a tríplice coroa alcançada pela empresa em seu país no ano passado.

Depois de obter o Prêmio Nacional da Qualidade® em 2004, a Plamex conquistou no ano passado os prêmios nacionais de Tecnologia e de Exportação, sendo a primeira companhia mexicana a ostentar os três troféus de incentivo à competitividade entregues pela Presidência da República. Além disso, ganhou o Prêmio Ibero-americano da Qualidade 2005 e o Prêmio Ásia-Pacífico da Qualidade.

Fabricante de headsets e outros produtos voltados às telefonias fixa e móvel, a Plamex hoje é responsável pela produção de 75% das peças vendidas pela americana Plantronics Inc. em todo mundo.

Defensor da idéia de que boas lideranças e canais de escuta permanentes podem gerar o comprometimento dos trabalhadores e, por conseqüência, melhores processos e ações de inovação, Jara tem ajudado a implantar novos sistemas de comunicação interna na Plamex, entre outras atribuições.

 

No dia 31 de março, o executivo esteve em São Paulo, onde participou do Seminário Internacional em Busca da Excelência – Diálogos sobre Gestão, promovido pela FNQ, em São Paulo. Leia, a seguir, a entrevista concedida na ocasião:

 

Qual o fator-chave para uma empresa como a Plamex criar uma cultura de boas práticas de trabalho?
Ressalto dois fatores. O primeiro é a liderança, que define o rumo que a organização seguirá e os sistemas ou processos que ajudarão a entranhar a cultura da qualidade. E é encarregada de apoiar os processos que vão orientar o segundo fator de importância, que são as pessoas. Os sistemas de trabalho mobilizam as pessoas, fazem-nas participar, desenvolvem sua criatividade e criam o ambiente de credibilidade e confiança em que os resultados que se buscam são para o bem de toda a comunidade. Com isso, há um compromisso de todos, que se sentem parte da organização ao ver que um bem-estar foi gerado não só para eles, um bem-estar de desenvolvimento, de crescimento. Na Plamex, damos aos funcionários a possibilidade de criar um futuro por meio de nossos programas de participação, de qualidade de vida, a partir dos quais se pode fazer um planejamento para a vida futura.

 

Qual o significado dessas premiações? 
Por um lado nos orgulha saber, como organização mexicana, que nossos sistemas de trabalho são reconhecidos internacionalmente. Por outro, gera o compromisso de não pararmos de buscar maneiras inovadoras e criativas de continuar crescendo. Obtivemos todos os reconhecimentos dos prêmios internacionais de qualidade de que participamos. Temos de continuar nossa obra e, ao mesmo tempo, buscar e aprender com outras empresas, ver como melhoraram e evoluíram. Estamos repensando nossos sistemas de manufaturas, vendo como torná-los mais eficientes. Enfrentamos pressões de outros países e temos que seguir inovando.

 

Como foi a participação dos trabalhadores nesse processo?
Sem a participação de todos é impossível alcançar esses níveis de competitividade. As pessoas são o motor principal dessas conquistas. Sem o compromisso de todos é impossível atender às demandas dos clientes, melhorar os processos. Sem que haja iniciativas de todos, não podemos ter novas responsabilidades, não podemos melhorar.

 

Quais as principais mudanças implantadas no plano da excelência da gestão?
A principal foi a mudança da cultura, o entendimento de que todos os indivíduos que participam de uma empresa podem contribuir para melhorar o conjunto. Um dos maiores choques culturais foi quando nos demos conta de que tínhamos de escutar nossos funcionários, entender suas necessidades e motivações e canalizá-las para criar sistemas de trabalho em equipe que levassem à colaboração de todos. É uma questão de esquema de liderança. Muitas vezes, os líderes não percebem que o potencial criativo de seu pessoal pode elevar o nível de competitividade. Então, inventam mecanismos para restringir essa criação. Uma das mudanças mais fortes que tivemos foi precisamente a de perceber que havia coisas que poderíamos fazer melhor e que nossos funcionários sabiam como mudar. Eles nos ajudaram a entender o que não estávamos fazendo bem. Nosso trabalho, como líderes, foi o de criar mecanismos para que essas mudanças pudessem ser feitas. O motor principal é esse: escutar e criar meios para que as pessoas participem e usem sua criatividade. 

 

Como a tecnologia ajuda a melhorar a gestão?
Bem aplicada, a tecnologia ajuda a alavancar o negócio. Um exemplo é nossa página de intranet, Plamexnet, à qual demos início quando começamos a ter um crescimento mais veloz. Nessa época, passamos a ocupar vários prédios e tivemos de incrementar os turnos de produção. Comunicar-se passou a ser cada vez mais difícil. Não podíamos mais fazer assembléias gerais em que informávamos os resultados como antes. Ocorreu-nos utilizar a intranet para informar a todos e mostrar quais desafios enfrentávamos, quais iniciativas eram tomadas e por quê. Com o tempo, esse se tornou o meio de comunicação mais importante para a empresa. Todos têm acesso a computadores nas áreas de produção, disponíveis 24 horas. Criamos essa cultura da informação, vencendo os temores de gente que nunca havia utilizado um computador. Consolidamos o conhecimento organizacional na intranet, não somente a comunicação de resultados, mas os indicadores das equipes de trabalho, as metas, os resultados de projetos.

 

O mercado em que atua a Plamex é mais exigente quanto à inovação que outros mercados?
Somos dependentes da tecnologia de comunicações. No mercado de telefonia celular, por exemplo, tivemos de mudar nossa forma de desenvolvimento de produtos, pois tudo se altera a cada seis meses. Os aparelhos passam a ter mais funções, mudam os estilos, o design. É um mercado de moda, não somente de comunicação. Nossos aparelhos têm de seguir essa moda, fazer com que as pessoas se sintam bem ao utilizá-los. Não precisam apenas ser cômodos ou discretos, são acessórios de beleza, exprimem a personalidade da pessoa! É preciso inovar sempre nesse segmento. A cada ano, lançamos em torno de 10 novos produtos para telefonia celular. Antes, os produtos para call center, por exemplo, duravam muitos anos e o que importava era a durabilidade. Mas na telefonia celular é preciso ter diferentes cores, tamanhos, com fio, sem fio etc. Temos produtos híbridos que permitem escutar música e, ao mesmo tempo, estar conectado ao celular. Quando entra uma ligação, a música pára. Quando a ligação termina, ela volta. Isso faz com que evoluamos como organização para responder às necessidades desse mercado.

 

Existe um ambiente regulatório propício aos conceitos de excelência de gestão no México?
O governo mexicano impulsiona, por meios diferentes, a competitividade. Há um “Modelo Nacional de Qualidade”, disponível a todas as empresas. É um modelo de eficiência comprovada, como se atesta pelo reconhecimento às empresas mexicanas nos fóruns internacionais de qualidade. Há, ainda, o Modelo Nacional de Tecnologia e o Modelo Nacional de Exportação. Os três estão disponíveis para que as empresas moldem suas operações, seus processos, tenham ações adequadas em questões ambientais e sejam sensíveis às necessidades da comunidade. Tudo isso em conjunto permite que sejam mais competitivas. O governo mexicano dá muita ênfase a isso. Considera essas questões fundamentais para o desenvolvimento econômico.

 

Qual a importância de uma formação acadêmica voltada aos princípios de excelência? 
Quanto mais preparados estiverem os líderes, melhor poderão conceber modelos que levem as empresas a ser competitivas. Mas existe também a universidade da vida, as experiências que os líderes tiveram no decorrer da carreira, para as quais nem sempre a academia pode dar resposta. A universidade ajuda a estruturar, mas para executar é preciso aprender na escola da vida. A combinação ideal deve ser entre vivências acadêmicas e práticas. O pessoal acadêmico cria modelos, mas é importante ter gente que possa executá-los, que esteja em contato com as pessoas e que arregace as mangas.

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