Taxa de sobrevivência das pequenas empresas: o que está acontecendo?

A taxa, medida em 2005, de sobrevivência de 78%, ao final do segundo ano de vida, das pequenas empresas brasileiras nos coloca entre as observadas num conjunto expressivo de países.

Pesquisas realizadas pelo Sebrae mostram uma melhora espetacular na taxa de sobrevivência das pequenas empresas brasileiras. O percentual destas organizações que sobrevivem, pelo menos dois anos, passou de 51% em 2002 para 78% em 2005, ou seja, 27% a mais de empresas que não fecharam suas portas. 

Duas perguntas principais podem ser feitas: Quais são os motivos dessa melhora significativa? Como estamos em comparação com os países mais desenvolvidos? 

Quanto à primeira pergunta, há dois fatores principais e determinantes: a melhoria do ambiente econômico e a maior qualidade empresarial. 

No ambiente econômico ocorreram a redução e controle da inflação, a gradativa diminuição das taxas de juros, o aumento do crédito para as pessoas físicas e o aumento do consumo, especialmente das classes C, D e E. Como conseqüência, tivemos um período favorável ao desenvolvimento dos pequenos negócios no Brasil.   

Mas outros fatores, relacionados à melhora da qualidade empresarial, tiveram importante contribuição para o aumento da taxa de sobrevivência das pequenas empresas. Os empresários que têm curso superior completo ou incompleto já são 79% do total, e aqueles com experiência anterior em empresa privada subiram de 34% para 51%.  Em resumo, temos atualmente empresários muito mais capacitados para enfrentar os desafios do mercado. Por isso, o percentual de empresários que identificou uma oportunidade de negócio cresceu de 15% para expressivos 43%.

Esses empresários melhor qualificados, num ambiente econômico mais favorável, passaram a cuidar melhor das empresas do que a desperdiçar suas energias com possíveis problemas da conjuntura econômica. O percentual de empresários preocupados com a economia passou de 14% em 2000/2002 para apenas 16% em 2005. Enquanto isso, os percentuais de empresários dedicados aos seus negócios subiram expressivamente. Podemos observar claramente que planejamento nas empresas passou a ser preocupação de 71% dos empresários em 2005 contra apenas 24% em 2000/2002. Organização empresarial 54% contra 17%; marketing e vendas 47% contra 7%; análise financeira 36% contra 7%; e, finalmente, relações humanas 38% contra somente 3% há poucos anos. É uma mudança expressiva, para melhor, na qualidade empresarial.

Com empresários mais focados em suas empresas, o Sebrae passou a ser mais demandado e respondeu, promovendo uma revolução em seu atendimento. Com isso o percentual de empresários atendidos pela entidade saiu de 4% em 2000/2002 para 17% em 2005, ou seja, multiplicou por quatro o número de clientes atendidos. Essa revolução do atendimento ainda está em curso e objetiva atender, pelo menos, 33% de todos os micro e pequenos empresários em 2010.

Passamos agora a abordar a segunda pergunta. Como poderemos comparar as taxas de sobrevivência das pequenas empresas no Brasil com países mais desenvolvidos?  Fiz uma pesquisa ampla e cheguei a duas conclusões mais relevantes: 1) os países mais desenvolvidos atingiram taxas entre 70% e 90% no inicio dos anos 2000, e 2) a mortalidade de empresas deixou de ser um fator muito preocupante para esses países e as pesquisas se escassearam nos anos mais recentes.

A taxa, medida em 2005, de sobrevivência de 78%, ao final do segundo ano de vida, das pequenas empresas brasileiras nos coloca entre as observadas num conjunto expressivo de países. As estatísticas consultadas mostram, no período de 2000 a 2002:, Austrália com 87,6%, Inglaterra com 81,9%, Cingapura com 75%, Estados Unidos com 74% (referente ao quarto ano),  Portugal com 72,6%, Itália com 72,4%, Finlândia com 71.3%. Esses mesmos países registravam, na metade da década passada, percentuais entre 50 a 65%. Por exemplo: a Inglaterra registrava, em 1995, a taxa de 65,6%, passando para 81,9% em 2003 e Cingapura passou de 62% em 1994 para 75% em 2002. Portanto, a evolução observada no Brasil, de 51% em 2002 para 78% em 2005, também havia acontecido em outros países num período imediatamente anterior.

Não foram encontradas estatísticas de sobrevivência de pequenas empresas após 2002 nesse conjunto de países. Muitos artigos recentes, de 2005 a 2007, ainda fazem referência aos dados de 2002 para trás. Consideram que, além do ambiente econômico mais favorável, o expressivo aumento do acesso às informações por parte de empresários melhor qualificados e os aprimoramentos nas políticas públicas e nos programas de apoio empresarial têm contribuído para que as taxas de sobrevivência de pequenas empresas se situem próximas a 80%, ao final do segundo ano de abertura. 

Em diversos países começam as iniciativas de pesquisar a sobrevivência de segmentos de pequenas empresas. No Canadá pesquisam as taxas de empresas organizadas em cooperativas, nos Estados Unidos as empresas geridas por mulheres ou por minorias étnicas, na Inglaterra por microrregiões, e em outros países as empresas inovadoras, localizadas em parques tecnológicos e incubadoras ou então os pequenos negócios apoiados por microcrédito. No Brasil, a atual pesquisa já buscou os dados para cada um dos Estados e deve, numa próxima pesquisa, buscar outras segmentações. Isso permitirá aprimorar ainda mais as políticas públicas e os programas de apoio às micro e pequenas empresas.

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