O mundo da corporação 2020

Pavan Sukhdev, economista, fundador e CEO da GIST Advisory e palestrante do Congresso FNQ de Excelência em Gestão

Hoje temos condições que favorecem o DNA da corporação 1920, como incentivos e subsídios, que são propícios à economia marrom, focada no curto prazo e na criação de demanda, independente da necessidade. Para a nossa sobrevivência e nosso êxito na biosfera terrestre, as condições para desenvolvimento dos negócios do futuro deverão ser, pelo menos, neutras ou terão de dar apoio explícito ao modelo da corporação 2020, que se tornará o agente dominante em uma economia verde mundial. Então, como seria esse admirável mundo novo, tanto para essas organizações como para as economias dominadas por elas?

O ambiente operacional corporativo, com certeza, teria mudado. Seriam reduzidos os subsídios cruéis, realizariam uma reforma fiscal, criariam incentivos, as compras públicas seriam feitas por processos mais “verdes” e os investimentos públicos estariam concentrados no bem-estar público – especialmente na infraestrutura ecológica. Propriedade privada e livres mercados não seriam mais considerados a cura milagrosa de todas as doenças. Já as propriedades públicas de bens comuns e comunitários não mais seriam compreendidas como parte de “deficiências de mercado”.

Além disso, o setor privado iria se beneficiar desse melhor entendimento. Assim como corporações de confiança são contratadas hoje para fornecer serviços públicos, como o gerenciamento de coleta e descarte de lixo e a manutenção de estradas, elas também poderiam ganhar licitações para gerenciar recursos comuns e reservas públicas, como as florestas, seguindo as especificações feitas pelas comunidades que as abrigam.

A alavancagem financeira seria limitada por meio de uma regulamentação que alinhasse os interesses corporativos às metas da sociedade – por exemplo, a estabilidade econômica. No momento, essa tarefa é feita, sobretudo, pelos investidores, sendo que os gestores de fundos estão se tornando improváveis guardiões da consciência da sociedade. Requisitos de adequação de fundos seriam implantados para corporações acima de certo tamanho – enquanto que hoje elas se aplicam apenas a bancos e instituições financeiras. A ideia de que empresas automotivas, de serviços públicos, seguradoras e originadoras de crédito hipotecário sejam “grandes demais para falhar” seria acompanhada por sua conclusão óbvia: ou o dinheiro público está sendo bem investido ou está correndo risco. Portanto, tais corporações também deveriam ficar sujeitas a normas prudentes de gestão de fundos, assim como os bancos.

“Vender bem, ao invés de fazer boas vendas” – essa deveria ser a regra, não a exceção. A condição jurídica da publicidade não seria mais desculpa. Hoje, a propaganda é considerada um incentivo não acionável, e não pode ser considerado uma oferta de verdade. Por essa razão, no direito não existe recurso contra propaganda enganosa, apenas casos individuais, como a publicidade de cigarros. Lições aprendidas no contexto da indústria do tabaco poderiam ser usadas como exemplos em outros setores. A publicidade se tornaria responsável, com anúncios obrigados a obedecer às normas éticas.

Uma nova forma de capitalismo seria dominante no mundo da corporação 2020 – que reconheça e recompense a criação de capital natural, social e humano, bem como os já tradicionais capitais físico e financeiro. A inovação seria um importante propulsor de crescimento e da criação de empregos. Podemos administrar apenas o que medimos. Portanto, o capital social de um país seria o ponto vital para mensurar o desempenho econômico de um país.

Projetos internacionais, como o Beyond GDP e o Waves, poderiam ajudar a iniciar um sistema de contabilidade nacional que reconheça e registre o capital natural – cujos benefícios invisíveis fluem tão bem quanto sua degradação e seus estragos não registrados. A gestão do déficit fiscal não seria afetada pela mudança da tributação de recursos para indústrias extrativistas, mas a alteração motivaria maior eficiência na gestão de recursos. Seriam feitas muitas previsões de perda de mão de obra no curto prazo; porém, uma transição bem gerenciada levaria à criação de muitos postos de trabalho na economia verde em uma década. Por fim, economia e política estariam alinhadas. Sob todos os aspectos – inovação, empregos dignos, bem-estar, riscos sistêmicos e distribuição de renda -, a corporação 2020 iria construir, de forma gradual, uma macroeconomia verde e bem-sucedida. A hora de começar é agora.

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