O avanço estratégico que o Brasil tem como desafio

Chamar o empresário brasileiro de criativo não é o suficiente, é preciso capacitá-lo e isso tem de acontecer com o máximo empenho dos setores público e privado.

 

Todo país que se desenvolve economicamente, como tem sido atualmente o movimento do Brasil e demais países denominados emergentes, passa por dois macromovimentos estratégicos. O primeiro movimento é a estratégia de investimento, onde se busca uma injeção de capital para a formação de parques produtivos e decorrentes mercados interno e externo. Nos últimos dez anos o Brasil teve grandes injeções de capital que refletiram positivamente no crescimento do seu PIB e em algum grau no aumento do poder de compra das classes C e D (se bem que o aumento da concentração de riqueza ficou mais evidente e salta-nos mais aos olhos à primeira vista). 

Observando esse movimento de atração de investimento e sua perspectiva na linha do tempo, não fica difícil perceber que, apenas produzir sem diferenciar-se, direciona o país para um tipo de competição perigosa, onde o que vale globalmente são os baixos custos de produção, tendo como reflexo social a redução esmagadora dos salários. Produzir no mesmo nível de custos da China é praticamente impossível, pois é notório que a mão de obra empregada por lá é semiescrava. A única saída diante dessa perspectiva é passar para o segundo macromovimento, que é a estratégia da inovação.

Com um parque produtivo instalado e funcionando, ao passar a inovar, o país começa a criar diferenciais competitivos nos seus produtos e serviços, fazendo assim uma transição para um modelo econômico mais saudável, globalmente e em longo prazo. O movimento estratégico inovador sugere uma dinâmica que acompanha a relação do país com todo o resto do globo, criando interesse e interação quando começarem a aparecer os resultados. Hoje o Brasil está posicionado no fim da primeira estratégia e necessitando iniciar seus investimentos na segunda, mas o que falta é conhecimento para que o salto aconteça. Para isso o país deve saber gerar, gerir e divulgar a inovação. 

Chamar o empresário brasileiro de criativo não é o suficiente, é preciso capacitá-lo e isso tem de acontecer com o máximo empenho dos setores público e privado. Uma estagnação nesta transição estratégica gerará um comprometimento do crescimento. Por mais que se produza, o mercado tenderá a ficar girando em falso, apostando apenas nos baixos custos e sem o devido destaque gerado pela relevância das suas inovações. Este salto é que dará condições e sustentação para o país manter-se como nação desenvolvida, viabilizando-se no contexto global numa condição diferenciada e competitiva. 

O avanço em plena crise?

O mercado globalizado é como um mar agitado: a cada nova onda vemos um cenário novo e desafiador. Os últimos fatos que inundaram a mídia de previsões pessimistas e alarmantes assustaram a todos. Apesar de muitos terem a leitura do momento como uma crise geral, na realidade as chamadas crises têm se acumulado no decorrer do tempo como conseqüências do acirramento da competitividade causada pela globalização. A cada mudança causada por alguma turbulência setorial no mercado global a leitura local é de crise generalizada, mas para quem investe na competitividade dos seus negócios, as crises passam a ser problema dos outros, que não estão participando a contento do jogo do mercado. 

Ao adotar a postura de quem toma as iniciativas, porque está capacitado para liderar seu segmento de negócio, um empresário contabiliza suas ações tácticas sempre a favor do seu crescimento. Competitividade – esta é a palavra que exprime a realidade do mercado hoje. Mas qual deve ser a nossa leitura disso tudo para que tiremos algum proveito? Quando o trabalho flui normalmente, a sensação é de ordem e estabilidade, nesses momentos as contas ficam em paz e temos o controle do que fazemos. Mas o mar não é feito de calmarias. Fatores sistêmicos como as tendências, a dinâmica de mercado (incluindo crises setoriais), a competitividade e a globalização, agem como o impulso das marés e dos ventos, dando início à formação dos movimentos que criam as novas ondas e desembocam na complexidade. Curiosamente é no meio da complexidade que também está a crista da onda (justamente o termo tradicional para relatar inovações), onde as novidades aparecem e renovam o cenário.

Na crista da onda existe um impulso onde identificamos a explosão de energia criativa tornando-se relevante. Neste momento ainda temos o controle da situação, mas logo após a formação da crista da onda, surge uma explosão caótica e um turbilhão onde (quase) todos ficam perdidos. Neste caso é impossível ter um bom aproveitamento da energia que gerou todo o processo, aí nossa leitura passa a ser a da crise generalizada, ou caos. É exatamente o que sentimos quando somos pegos de surpresa, ficamos extasiados. Essa paralisação mostra-nos que não é no momento do caos que seremos competitivos e sim antes dele, atuando na complexidade, surfando a crista da onda. Um bom surfista não tenta pegar todas as ondas, ele prepara-se, observa aquela onde pode se dar melhor de acordo com sua capacidade, seu momento (e também de acordo com o comportamento dos outros surfistas que estão querendo a mesma coisa, competir). 

Mesmo quando não se trata de uma competição de surf, o surfista busca além do lazer o aprimoramento da sua técnica, novas manobras, radicalidade, isso tem uma analogia muito grande com a inovação e o empreendedorismo. Sempre que pensarmos em melhorar nossa performance competitiva será bom que lembremos da figura da onda, assim não desperdiçarmos energias à toa e também identificamos melhor as oportunidades de diferenciação de que tanto precisamos.

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