Muito além da ecoeficiência e da responsabilidade social corporativa

A sobrevivência física, econômica e da própria sociedade não será garantida apenas por meio uma revolução tecnológica.

 

O processo de implantação do modelo de desenvolvimento sustentável tem transformado lentamente o perfil das empresas. Vinte anos depois da divulgação do Relatório Brundtand, em 1987, quando foram concebidas as linhas mestras do novo modelo, parte do setor empresarial consolidou sua posição, ao lado das instituições governamentais e da sociedade civil organizada, como um dos pilares desse mundo tripolar, cuja capacidade de articulação vem determinando a velocidade da mudança, numa dramática corrida contra o tempo para reverter a curva da degradação ambiental e dos indicadores de pobreza no Brasil e no mundo.

 

Nesse período, evoluímos muito em relação ao entendimento e à aceitação da sustentabilidade — um tema transversal e excessivamente complexo. Há vinte anos seria incomum  uma empresa preocupar-se com seus níveis de emissão de CO2 ou com os impactos socioambientais da instalação de uma unidade produtiva no interior do País. Da mesma forma, não poderíamos imaginar que assuntos como aquecimento global ganhassem tanto espaço na mídia e nas conversas cotidianas. Contudo, o avanço obtido ainda está muito distante da efetiva implementação do desenvolvimento sustentável, ou seja, de encontrar a eficiência econômica de forma articulada e integrada com as dimensões social e ambiental.

 

A dicotomia entre a urgência de mudança e o prazo necessário para processá-la antes que os recursos naturais se esgotem e os conflitos sociais tornem-se incontornáveis define o livro Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente, que acabo de lançar pela Editora Campus Elsevier. Abordo esse dramático dilema de todos nós em três blocos principais. No primeiro, o estado dos serviços ambientais, as razões da urgência e o comportamento dos sistemas naturais. No bloco seguinte, como implementar as mudanças pela via da ruptura estruturada como forma de desviar nosso futuro da rota da tragédia social e ambiental. E, por último, defendo a tese de quem vai operar as mudanças, apontando para a formação dos líderes da sustentabilidade, que qualifico como estadistas privados.

 

Para viabilizar essas mudanças, precisamos subverter a ordem dos atuais modelos de negócios a fim de garantir uma transição minimamente pacífica, única forma de nos afastarmos da possibilidade de uma tragédia ambiental e social. Grande parte da comunidade científica já concluiu que o atual modelo de crescimento econômico global é insustentável e está provocando a falência dos serviços ambientais e o esgarçamento do tecido social, com o aumento da pobreza, da violência, do terrorismo. O processo de reversão tanto dos modelos de negócios quanto dos padrões de desenvolvimento via sustentabilidade é subversivo.

 

A sobrevivência física, econômica e da própria sociedade não será garantida apenas por meio uma revolução tecnológica, mesmo reconhecendo que as inovações fazem parte deste novo contexto como fator fundamental. A ruptura que defendo vai ainda além da ecoeficiência, modelo de gestão engenhoso e já amplamente aplicado, no qual as empresas ampliam sua capacidade produtiva, sua lucratividade e sua competitividade com significativa redução de insumos, amenizando, conseqüentemente, os impactos no meio ambiente. No caso do Brasil, por exemplo, seria desmatamento zero.

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