Infelizmente, a qualidade ainda não é o foco das discussões sobre melhorias na educação

Marta Kassab, gerente geral da QUALI Treinamento & Certificação

 

Estamos em uma época de muitos protestos da sociedade, insatisfeita com a qualidade dos serviços que são ofertados pelo governo. Os professores fazem parte do grupo de protagonistas que manifestam sua insatisfação e reivindicam valorização profissional, melhores condições de trabalho além de mais segurança nas escolas. Mas e a qualidade do ensino? Será que se os políticos tiverem coragem de mudar as leis essas reivindicações serão suficientes para suprir as demandas de melhorias na educação?

Recentemente, assisti à palestra da Michelle Rhee, fundadora da StudentsFirst, organização sem fins lucrativos que trabalha com a reforma da educação nos EUA. Ela falou da época em que era chanceler das escolas públicas de Washington, de 2007 a 2010, e apontou que além dos políticos precisarem ter coragem para mudar as leis, é imprescindível que os gestores das instituições educacionais e professores estejam preparados e com as ferramentas certas para esta mudança.

Durante sua gestão, Rhee precisava de alterações nas leis estaduais para poder gerir as instituições. A estabilidade dos profissionais nas escolas, que não podiam ser demitidos, e a falta de uma avaliação do desempenho de todos que trabalhavam na instituição faziam com que a qualidade do ensino fosse muito ruim. O cenário era de um Estado com um dos piores desempenhos de educação do país, com uma série de vícios burocráticos no modelo de gestão das escolas. Ferramentas de gestão da qualidade aplicadas pela chanceler detectaram que era fundamental ter medição de desempenho da gestão escolar.

A Pesquisa do Estado Global da Qualidade 2013, da American Society for Quality – ASQ, contou com mais de 2.000 respostas de organizações em mais de 22 países. Entre as principais conclusões está a de que as organizações que possuem líderes que diretamente governam ou gerenciam o processo de qualidade são 30% mais propensas a ver a qualidade como uma atividade de melhoria contínua ou método para gerenciar o desempenho de toda a organização. Considerando o Relatório de Capital Humano, do Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil está mais perto dos piores exemplos do mundo do que dos melhores quando se trata de educação, com a 88ª posição de um total de 122 países. A preparação de profissionais nas instituições de educação para aplicar ferramentas e metodologias da qualidade para solucionar problemas endêmicos do sistema levaria o Brasil a outros patamares em rankings educacionais.

Em qualquer programa de qualidade devemos planejar e desenvolver ações a partir do ponto de vista do cliente. Quem são os principais interessados em um bom sistema de educação? A resposta é simples: os alunos, que são prejudicados por leis e pela burocracia do próprio sistema. O ensino falha quando tem como meta entregar profissionais para o mercado, independentemente do desempenho do aluno, sem enxergar que o estudante vem em primeiro lugar, ou seja, melhores resultados exigem ferramentas adequadas.

Um gestor da qualidade, competente e preparado, tem acesso a metodologias e práticas que ajudariam na efetiva melhoria da educação. As mudanças nas leis abrem espaço para implementação das melhores práticas, mas isso não basta. O profissional que vai realizar a mudança precisa estar preparado e com as ferramentas corretas em mãos. Esse profissional pode perceber, por exemplo, que uma avaliação de desempenho 360 graus é fundamental, envolvendo todos na instituição e detectando os problemas, as necessidades de capacitação dos profissionais, entre outros. É nesse momento que conseguimos analisar as falhas da gestão e só um gestor capacitado na área da qualidade pode identificar os gaps e identificar e aplicar ferramentas e metodologias que realmente sejam adequadas para solucionar o problema.

Loading
Comentários
Para escrever comentários, faça seu login ou conecte-se pelo Facebook ou Linkedin
Carregando... Loading
Carregando... Loading