Desafios para a sustentabilidade e o planejamento das empresas

A percepção do impacto da empresa sobre determinado desafio da sustentabilidade revelou-se o fator mais influente na incorporação, ou não, desse desafio ao planejamento estratégico.

As empresas estão, cada vez mais, mobilizadas em torno da questão da Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa. Mas, quais dos temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável do País são levados em conta no desenho de estratégias de negócio e de reposicionamento, buscando-se explorar oportunidades de inovação e evitar ações contraditórias?

A questão foi abordada recentemente em estudo da Fundação Dom Cabral com foco no planejamento estratégico, por ser este o processo que direciona toda a ação empresarial, priorizando e alinhando objetivos. Desenvolvida em 2006, a pesquisa “Desafios para a Sustentabilidade e o Planejamento Estratégico das Empresas no Brasil" teve como objetivo verificar o grau de incorporação, ao planejamento estratégico, dos desafios para a construção do desenvolvimento sustentável no Brasil, e como as empresas percebem sua interface com essas questões – a percepção dos impactos do negócio em cada desafio, e da importância de cada desafio para o negócio. Também verificamos os principais obstáculos para a incorporação de cada desafio e o grau de influência desses fatores na incorporação de determinado desafio ao planejamento estratégico. 


O estudo se concentrou nas empresas que declaram ou demonstram compromisso com a sustentabilidade, por meio da participação formal em grupos de referência no tema, como o Global Compact da ONU, Dow Jones Sustainability Index, ISE da Bovespa e o Global Reporting Initiative. Das 134 empresas convidadas, 30 completaram o questionário – de setores os mais variados, como construção civil, agroindústria, energia, siderurgia, financeiro, mineração. Apresentamos a seguir alguns resultados dessa pesquisa.

Foram delimitados 31 dos principais desafios sociais, econômicos e ambientais enfrentados. A pesquisa apontou que, em cerca de metade dos casos, os desafios são incorporados aos objetivos ou às ações estratégicas das empresas estudadas. 

A percepção do impacto da empresa sobre determinado desafio da sustentabilidade revelou-se o fator mais influente na incorporação, ou não, desse desafio ao planejamento estratégico. Outro fator que facilita as chances de incorporação é o nível de importância para o negócio – a empresa mobiliza esforços para incluir o tema à estratégia se perceber que suas operações não são indiferentes a ele.

Entretanto, a maioria das empresas pesquisadas avalia como positivos (70,4%) seus impactos nos desafios (diretos e indiretos, tendo em vista toda a cadeia de produção e consumo), e muito raramente como negativos (3,8%). Isso poderia indicar uma percepção inadequada do papel das empresas no cenário atual, no sentido da responsabilidade, já que a atividade empresarial tem historicamente lançado mão de recursos sociais, econômicos e ambientais para se sustentar e expandir.

Os desafios sociais relacionados à saúde pública, habitação, violência e tráfico, juntamente com os impactos socioambientais negativos resultantes da produção de alimentos, são as questões menos incorporadas ao planejamento estratégico. São consideradas de menor importância para o negócio, e os impactos sofridos por ele não são considerados negativos – apenas positivos ou nulos. Assim, não se percebe a relação do negócio com o desafio colocado, seja pela importância ou pelo impacto do negócio no agravamento do problema.
Não por acaso, a falta de articulação institucional (entre empresas, setor público e sociedade civil) foi apontada como o principal obstáculo à incorporação dos desafios da sustentabilidade aos objetivos e ações estratégicas das empresas.    

Vindos de uma parcela crítica do setor produtivo, esses resultados revelam a complexidade de fatores a serem equacionados na busca da sustentabilidade. Na ausência de articulação entre os vários agentes da sociedade, e com uma percepção incompleta dos efeitos agravantes diretos e indiretos, as iniciativas empresariais em torno de temas sociais críticos para o desenvolvimento do País (habitação, saúde pública, violência, que influenciam desafios decisivos como a educação) tendem a manter um caráter fragmentado, periférico à estratégia do negócio. Com isso, as empresas correm o risco de desperdiçar oportunidades de inovação, e torna-se difícil a reversão das atuais tendências.

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