Como criar uma pátria empreendedora?

Por Jairo Martins, presidente executivo da FNQ

De acordo com a pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Model - de 2014, o Brasil é o terceiro país com maior número de empreendedores, atrás apenas da Uganda e da Tailândia. Segundo o Business Insider, do Reino Unido, 13,8% da população brasileira busca oportunidades para empreender como comerciantes autônomos, o tipo de negócio mais aberto que existe. E é isso que coloca o Brasil entre os dez países mais empreendedores. Ser empreendedor não significa, necessariamente, ser inovador. E, nesse ponto, temos um caminho a percorrer.
 
Em nosso país, os empreendedores, mesmo que invistam por terem detectado uma oportunidade de negócio, ainda ofertam serviços pouco inovadores. Apesar de a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhecer e disseminar a ‘busca de oportunidades’, a ‘iniciativa’ e a ‘persistência’ como características do comportamento empreendedor, elas não são suficientes para assegurar negócios inovadores, duradouros, com alto nível de qualidade e que, de fato, consigam melhorar a qualidade de vida de quem os conduz, e da população como um todo. Mas como mudar esse cenário? 
 
O primeiro passo é instaurar uma educação empreendedora desde o ensino fundamental até o ingresso no mercado profissional. Nossas escolas ainda focam em competências que nem sempre preparam o aluno para empreender e atuar profissionalmente. Assim, acabam não propiciando oportunidades para que eles desenvolvam competências relacionadas ao planejamento, à gestão financeira e de pessoas, que são vitais na condução de qualquer negócio.
 
As pessoas carecem de competências básicas, mesmo que seja para atuar no ambiente corporativo: saber trabalhar em equipe, persuadir e engajar pessoas, dar e receber feedbacks construtivos, definir indicadores e estabelecer metas, além de ser automotivadas. O comprometimento, a constante busca pela eficiência e pela eficácia, assim como a comunicação assertiva, nem sempre são observados nos profissionais em geral. Afinal, ainda há muitas pessoas procurando emprego só pelo salário, e não em busca de um trabalho que as dignifique, propicie satisfação e no qual possam se desenvolver como profissionais e indivíduos.  
 
É imprescindível que os currículos escolares sejam revistos, capacitando os alunos para terem competências também úteis no mercado profissional, e não apenas aquelas necessárias para passar no vestibular ou se graduar. Além disso, a própria dinâmica de sala de aula precisa ser repensada, possibilitando mais interação entre os alunos, fazendo mais uso das tecnologias, promovendo a interdisciplinaridade, transformando o aprendizado em uma atividade menos centralizada no professor.
 
No Brasil, contamos com iniciativas do Sebrae e Sescoop para desenvolver os novos empresários, mas falta criar uma cultura empreendedora voltada para a inovação com sustentabilidade. Essa mudança é mais fácil em crianças do que em adultos, já que elas normalmente são menos resistentes. Esse pode ser o caminho para efetivamente construirmos o mundo com mais igualdade, equilíbrio e com a qualidade de vida que todos desejamos.
 
O governo deve ser o articulador dessas mudanças e reduzir a burocracia, para que os educadores possam seguir uma política nacional inovadora. Depois, precisamos pensar: como quebrar o paradigma de criar uma educação mais empreendedora quando os professores tiveram uma educação tradicional, e poucos tiveram a oportunidade de aprender, na prática, o que precisam ensinar? Repensar a educação pode ser a forma de obtermos empreendedores mais capacitados, inovadores e responsáveis, respeitando os limites da sustentabilidade e da ética.
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