Como as organizações podem e devem se preparar para novos riscos sistêmicos

Muitas organizações, ofuscadas pela perspectiva de lucro fácil, optam por um crescimento imediato sem a devida análise completa dos riscos envolvidos no processo e a implantação dos respectivos controles.

A globalização dos anos 90 definitivamente se consolidou no século 21, com gigantescas oportunidades de crescimento aos novos exploradores do planeta Terra. A busca de processos mais eficientes, com maior volume de produção e menor custo operacional, transferiu tecnologia e riqueza para países em desenvolvimento, providos com a infraestrutura mínima necessária aos negócios e donos de uma abundante diversidade em recursos culturais, humanos e naturais. O encontro destes mundos gera inovações impensadas nos modelos convencionais de pesquisa e desenvolvimento. Inesperadas demandas são criadas a partir da inserção de novos produtos e serviços em mercados locais, cujos consumidores, em contínua ascensão social, rapidamente tornam-se ávidos por novidades.

Este mercantilismo torna acirrada a concorrência e exige a conquista rápida desta massa de consumidores. Muitas organizações, ofuscadas pela perspectiva de lucro fácil, optam por um crescimento imediato sem a devida análise completa dos riscos envolvidos no processo e a implantação dos respectivos controles. Tais etapas são vitais à perenidade do negócio na nova realidade, mas acabam constantemente sendo traduzidas por morosidade e indesejáveis custos operacionais. 

Neste contexto, a análise de risco enfrenta dificuldades e deve passar a considerar fatores inexistentes ou de baixa relevância no cenário original das empresas. As novas formas de transação comercial, a inserção de costumes em sociedades com valores distintos, o contato com desconhecidos riscos biológicos ou mesmo a falta de preparo dos profissionais locais na implantação de controles sobre todas as fases do processo, representam ameaças críticas para o sucesso do empreendimento. Com a mesma velocidade em que a marca de uma empresa é conhecida pelos consumidores, sua reputação e imagem podem estar expostas a danos por vezes irreparáveis. Existe maior oferta de produtos e serviços, o que diminui a fidelidade dos consumidores com uma marca específica. Erros ou omissões na interlocução com a sociedade local pode amplificar problemas e envolver toda a instituição numa crise de grandes proporções. O atual cenário mundial reduziu as margens de lucro e a capacidade das empresas em absorver perdas. A sociedade e as regras de mercado tornam obrigatório o cumprimento de boas práticas de governança corporativa, principalmente na transparência dos negócios.

A centenária engenharia de risco deve atravessar as fronteiras e avançar para sistemas de gestão que contemplem a integração de culturas e tecnologias. Danos causados por atos ou declarações de alto executivos da organização, por exemplo, podem significar um prejuízo maior que aqueles decorrentes de falhas operacionais. Portanto, não se trata mais de projetar ferramentas para conter danos isolados, mas de garantir a credibilidade dos produtos e serviços da instituição no mercado mundial. O nível de controle exigido pela sociedade caminha para um nivelamento mundial e práticas inapropriadas, mas anteriormente aceitas em determinados lugares, subitamente passam a ser consideradas abominadas em todo o mundo. Esta é uma reação em cadeia que pode levar ao repúdio de uma determinada marca pelos consumidores. Analogicamente, a competência na identificação dos riscos emergentes e a implantação de controles integrais nas dinâmicas facetas dos negócios de uma empresa causam o respeito do consumidor pela marca e a projetam para uma presença sólida na sociedade. Atitudes proativas de comunicação de risco, fundamentadas em verdades éticas, são demonstrações claras de responsabilidade social e empresarial e aumentam a confiança por parte do mercado. 

Esta pode ser a chave do sucesso para a sustentabilidade de uma marca, mas representa um grande desafio aos especialistas em gestão de risco. Como prever ameaças em cenários anteriormente considerados normais? Como antever crises decorrentes de questões culturais? Como desenhar controles sem a presença de normativas credenciadas? As soluções para estes problemas sofrem constantes mutações e requerem monitoramento atento por parte dos responsáveis pela gestão de risco. Apesar da aparente complexidade, pode-se afirmar que nenhuma resposta será satisfatória sem a total interação com a sociedade, que, de forma simples e extraordinária, pode oferecer os subsídios tão almejados pela corporação na busca de uma equação vencedora para todas as partes envolvidas.

Esta é a chance que temos para a transformação em um planeta mais rico, justo e limpo, em que as pessoas e as empresas sobreviventes compartilharão os recursos e as responsabilidades. Esta época significará harmonia e suavização dos conflitos. Viva o novo! 

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