As Mudanças Climáticas e a Ameaça Civilizatória

Roberto Vámos é coordenador-geral do Climate Reality Project Brasil, consultor em sustentabilidade e parceiro da FNQ no Núcleo de Estudos de Sustentabilidade

Hoje há uma ameaça real e significativa que afeta todas as sociedades e todas as economias do mundo: as mudanças climáticas, causadas pelo aquecimento global. Cientistas do mundo inteiro já chegaram à uma conclusão inequívoca: o dióxido de carbono (CO2), o metano e outros gases do efeito estufa - lançados à atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, pelo desmatamento e por processos industriais e agrícolas desde o início da Revolução Industrial - estão aumentando a temperatura média da Terra e dos oceanos, alterando, de forma prejudicial, o nosso clima e ameaçando os ecossistemas dos quais precisamos para sobreviver.
 
Não se trata de um alarmismo barato ou falso. Os efeitos do aquecimento global já podem ser sentidos e medidos. Geleiras derretendo, nível do mar subindo, doenças tropicais se espalhando, oceano se acidificando são apenas algumas das consequências nefastas - mas previstas por cientistas há mais de cem anos! - da mesma ação humana que permitiu um desenvolvimento social e econômico sem precedentes na história. No Brasil, temos sentido as mudanças climáticas por meio de ondas de calor, secas prolongadas e inesperadas e o aumento de chuvas torrenciais, que causam prejuízos bilionários e centenas de mortes em diversas regiões do País.
 
Esses eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns em todo o planeta. Ao redor do mundo, indivíduos, organizações, empresas e governos começam a se mobilizar em torno das soluções. Todos são movidos por um sentimento cada vez maior de urgência. Afinal, ao adiarmos a implementação de soluções, estamos agravando o problema e tornando a solução cada vez mais onerosa e sacrificante. E pior: aumentamos o risco de ultrapassarmos certos limites do sistema climático e biológico, além dos quais não há mais volta.
 
A principal solução é óbvia: precisamos reduzir drasticamente as nossas emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa. E cada indivíduo e, especialmente, cada empresa precisam fazer a sua parte por meio de uma mudança não só de comportamento, mas também de visão de futuro.  Empresários e gestores tomam decisões de investimento baseados no que esperam acontecer no futuro.  Mas, raramente, imaginam que podem influenciar este futuro. A verdade, porém, é que a cada dia bilhões de pessoas tomam decisões individuais e assim criamos, coletivamente, mas individualmente, o nosso futuro. É a famosa mão invisível de Adam Smith.
 
Pois agora precisamos tomar decisões para evitar um futuro sombrio que se vislumbra já de perto. Cabe a cada indivíduo, empresário ou gestor investir em tecnologias de baixo carbono. Cabe a cada empresa tomar conhecimento de sua pegada de carbono, e da de toda a sua cadeia de fornecimento, e adotar medidas para diminui-la.  Há inúmeras formas de fazer isso e cada um encontrará uma fórmula mais adequada à sua realidade e necessidade. Mas algumas são bastante óbvias: diminuir o consumo de energia e água, por exemplo, por meio de investimentos em eficiência e redução de desperdício. Buscar fontes alternativas de fornecimento de energia limpa. A Honda, por exemplo, construiu um parque eólico no Rio Grande do Sul, que fornece 100% da energia utilizada por sua fábrica em São Paulo. A Walmart está instalando painéis solares nos telhados de suas lojas nos EUA para diminuir sua conta de eletricidade. Apple e Google têm a meta de receberem 100% de sua energia de fontes limpas e, para isso, constroem parques solares e eólicos nos EUA e Europa. Nos EUA e Europa, as pessoas, principalmente os jovens profissionais, estão desapegando do carro e usando cada vez mais a bicicleta, o transporte público e carros compartilhados para se locomoverem, abrindo um enorme mercado de uso compartilhado de equipamentos.
 
A solução para a crise climática passa pelos agentes econômicos: as empresas e seus gestores. Devemos lembrar que empresas não são entidades impessoais, frias, guiadas apenas pela lógica dos mercados.  Elas são participantes ativas da teia social e econômica que envolve a nós todos e, portanto, não têm como escapar das consequências de fatores que afetam a sociedade. E tampouco podem fugir da responsabilidade de participarem das soluções. Empresas são entidades humanas, criadas e geradas por e para homens e mulheres que têm famílias, sonhos e ambições.  As empresas participam da responsabilidade moral que todos nós, indivíduos, compartilhamos em resolver a crise climática e não deixar para futuras gerações (nossos filhos!) um problema que ameaçará a sobrevivência da civilização como a conhecemos.
 
Novamente repito: não se trata de alarmismo falso. A crise hídrica que atualmente assola o Sudeste e o Nordeste é apenas uma pequena amostra do que há por vir. Qual empresa consegue funcionar sem água? Ou no meio de uma enchente? O próprio Banco Mundial já advertiu que se as mudanças climáticas não forem combatidas, todo o ganho que o mundo teve nos últimos 20 anos em termos de diminuição da pobreza será apagado. Haverá guerras por água, fome, grandes ondas de migração de refugiados climáticos. Nenhum país, nenhuma região do mundo será poupado.
 
A hora de agir é agora. Somos a primeira geração a sentir na pele as consequências do aquecimento global. E a última a poder fazer algo a respeito.
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