Modelo econômico deve considerar danos ambientais para buscar sustentabilidade

Em entrevista exclusiva à FNQ em Revista, o ex-secretário do Meio Ambiente e Recursos Naturais do México, Victor Lichtinger, explica os benefícios e desafios de inovar para a sustentabilidade.

 

A busca por soluções inovadoras tem se mostrado a melhor forma de alcançar a sustentabilidade dos negócios, das comunidades, da economia e do planeta. Mas nenhum país está atuando de maneira eficaz em prol desse objetivo, na opinião do ex-secretário do Meio Ambiente e Recursos Naturais do México Victor Lichtinger, que realizou uma palestra sobre "A insustentabilidade do atual modelo econômico" durante o 19º Seminário Internacional em Busca da Excelência, promovido pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).


Com experiência na Comissão de Cooperação Ambiental do NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) e no Conselho da China para o Desenvolvimento Sustentável, ele afirma que já existem projetos isolados com bons resultados, mas ainda há muito o que ser feito pela sociedade e pelas organizações públicas e privadas para chegarmos a um ideal sustentável.


Em entrevista exclusiva à FNQ em Revista, Lichtinger explica os benefícios e desafios de inovar para a sustentabilidade, bem como de que forma as empresas podem atuar com essa finalidade. Confira!

 

Você acredita que o atual modelo econômico é insustentável?
Definitivamente, nosso planeta está em um caminho insustentável e são cada vez mais adversas as relações entre o homem, a natureza e a comunidade ao seu entorno: o aquecimento global está avançando irremediavelmente; temos cada vez menos disponibilidade de água doce; a biodiversidade sofre diariamente com extinção de espécies na fauna e flora; a pobreza avança na maior parte do mundo em desenvolvimento e se combina com a perda de fertilidade da terra devido às erosões em áreas agrícolas. Tudo isso se incorpora ao elevado consumo de produtos e serviços que entram no mercado com padrões insustentáveis. Apesar dos esforços em várias partes do planeta, é claro que o que tem sido feito é insuficiente e, em geral, tarde demais.

A inovação para a sustentabilidade pode ser considerada a solução para o crescimento sustentável?

É preciso haver uma verdadeira mudança de paradigma na forma em que tentamos avançar. Em um sistema econômico que privilegia os usos e não leva em conta nas decisões os danos que as pessoas, empresas, instituições e governos geram ao meio ambiente, não se pode alcançar a sustentabilidade do ponto de vista ambiental e muito menos social. Se a inovação for motivada apenas pelo interesse de empresas responsáveis e não se tornar o fator que levará à tal mudança de paradigma, nossas ações continuarão simulando esforços de sustentabilidade e sendo insuficientes e tardias. 
 

Como as empresas podem promover a inovação com foco na sustentabilidade?
As empresas têm um papel fundamental, embora por si só não consigam promover uma mudança de paradigma. Essa mudança de que falamos é similar ao que a internet, as redes sociais e o ciberespaço têm promovido nos últimos anos. Quem imaginaria que tudo isso geraria uma abertura e transparência de informações e que ninguém pagaria para ter acesso a esses dados? É claramente um modelo de negócio diferente, que alcançou grandes utilidades com participação massiva e gratuita de pessoas ávidas a receber e compartilhar informações na rede. Na sustentabilidade, deve haver uma mudança radical bem parecida. A proteção ao meio ambiente deve estar em primeiro lugar e se tonar a razão principal do êxito do produto ou da empresa.

 

Como você vê o atual modelo de desenvolvimento econômico de países emergentes? 
Devido à sua grande população e espaço territorial, bem como seu potencial de crescimento econômico, países como China, Índia, Brasil e México têm uma grande responsabilidade com a sustentabilidade. Se pretendem progredir com base no uso e consumo intensivo de energia, isso implicará na repetição de um modelo insustentável de desenvolvimento, só que para mais de 3 bilhões de novos consumidores. Para isso, seria preciso haver três novos planetas com recursos naturais disponíveis.

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