Executivos desconhecem o conceito de Pensamento Sistêmico

Apenas 45% reconheceram as práticas do pensamento sistêmico como práticas que deveriam, idealmente, ser seguidas em todas organizações de forma intensiva e integral.

Com o objetivo de promover uma reflexão sobre o Pensamento Sistêmico e mensurar o grau de entendimento e de aplicação do conceito entre os empresários brasileiros, a FNQ, em parceria com a Omni Marketing, realizou em junho de 2007, uma pesquisa virtual com 196 executivos brasileiros. Os resultados revelaram que a maioria dos entrevistados conhece apenas de forma parcial o conceito deste importante fundamento da gestão, presente nos mais prestigiados modelos de excelência de organizações Classe Mundial. Pensamento sistêmico é um dos 11 Fundamentos da Excelência da Gestão que compõem o Modelo de Excelência da Gestão® (MEG)disseminado pela FNQ. 

O levantamento, que foi realizado entre os dias 20 de maio e 9 de junho de 2008, foi estruturado segundo quatro blocos: perfil da organização, contexto do negócio, entendimento sobre o Pensamento Sistêmico e prática efetiva do Pensamento Sistêmico na organização em que trabalha. Do total de entrevistados, apenas 45% reconheceram as práticas do pensamento sistêmico como práticas que deveriam, idealmente, ser seguidas em todas organizações de forma intensiva e integral. Quanto à prática quotidiana efetiva e integral do pensamento sistêmico, esta porcentagem cai para 22%. 

Outro aspecto interessante indicado pela pesquisa é o fato de que uma proporcionalidade significativamente maior de empresas de pequeno porte  reconhece praticar mais o pensamento sistêmico de que empresas de médio e grande porte . Para contar mais detalhes sobre o estudo, o Líder do processo de Gestão do Conhecimento da FNQ, Filipe Cassapo, é o entrevistado deste mês da FNQ em Revista

Por que a FNQ optou em fazer essa pesquisa sobre o Pensamento Sistêmico?


No contexto dos trabalhos constantes de revisão e aprimoramento dos Fundamentos da Excelência do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG), o Pensamento Sistêmico foi este ano o tema escolhido para ser aprofundado. Isso está na realidade alinhado ao reposicionamento estratégico que a FNQ vem promovendo nos últimos anos a fim de se tornar um Centro de Referência em excelência em gestão, e por ter sido uma demanda das empresas que compõem nosso Conselho. 

Por qual razão a instituição optou por esse tema?


Porque, entre os 11 fundamentos do MEG, este é, sem nenhuma dúvida, o mais abrangente, transversal e mais abstrato de todos. Pareceu-nos ser um ótimo desafio e uma grande oportunidade de aprofundar este fundamento, junto com a comunidade das organizações de Classe Mundial.

Por que o questionário abordou o Pensamento Sistêmico em quatro dimensões: relações internas e externas, aprendizado e inovação, visão de futuro e geração de valor?


Utilizando como base os trabalhos de um dos principais pesquisadores mundiais do tema, Peter Senge, chegamos à conclusão de que o Pensamento Sistêmico podia ser concretamente analisado (inclusive, e em particular, em termos práticos), seguindo estas quatro dimensões.

A partir da pesquisa, a constatação que se tem é que grande parte do empresariado brasileiro desconhece o conceito de Pensamento Sistêmico? Qual essa porcentagem? 


Os resultados quantitativos da pesquisa mostram que existem cerca de 45% dos empresários entrevistados que apontam que o Pensamento Sistêmico deveria, idealmente, ser praticado em todas organizações de forma intensiva e integral (ou seja, sob todas as suas dimensões). Ao analisar os dados da prática efetiva e integral do Pensamento Sistêmico, sob todas as suas dimensões, esta porcentagem cai para 22%. Estas porcentagens levantam efetivamente a hipótese de que uma certa parte dos entrevistados ainda não reconhece ou identifica como prioritária a implementação integrada de todas as dimensões do Pensamento Sistêmico. 
De outro lado, cabe destacar, nos dados da pesquisa, que existem práticas do conceito, como o compartilhamento dos desafios e metas entre colaboradores da organização, que são altamente reconhecidas (88% dos entrevistados) e efetivamente mais praticadas (61% dos entrevistados). 

Existem também as organizações que conhecem o conceito, mas não o praticam? O que a pesquisa indicou?


Esta, sem dúvida, é uma dais principais hipóteses nutrida pelos resultados da pesquisa: se os respondentes apontam um certo reconhecimento (conceitual) da importância do Pensamento Sistêmico, eles também reconhecem que não seguem sistematicamente sua prática ou reconhecem não saber exatamente como concretizar, efetivamente, essa prática. 

Na sua opinião, por que existe esse gap?


O Pensamento Sistêmico, de um ponto de vista conceitual, faz total sentido, e é razoavelmente simples de ser entendido: as organizações são como sistemas vivos, integrantes de ecossistemas complexos. Por este motivo, são profundamente interdependentes das dinâmicas que lhe parecem “externas”, sendo estas as dinâmicas dos seus clientes, dos seus fornecedores, dos seus parceiros e da sociedade de forma geral. O Pensamento Sistêmico consiste, portanto, no reconhecimento e na catalisação constante e sustentável destas dinâmicas profundamente conectadas. 
A questão pode então ser: como concretamente implementar práticas simples e efetivas deste conceito e transformar tais instrumentos de conexão intensiva em resultados sustentáveis? Será por meio da implementação de um Blog Corporativo em que toda a sociedade possa opinar e dar sugestão sobre os meus processos, produtos ou serviços? Será por meio da implementação de um sistema de sugestões inovadoras, aberto a todas as partes interessadas? Será por meio da abertura do meu processo de planejamento estratégico às mesmas partes interessadas? Será por meio do constante enfoque em processos produtos e serviços eco-eficientes? Será por meio de todas estas práticas estrategicamente integradas? 

Então há mais de uma hipótese para a existência deste gap entre reconhecer a importância e a prática efetiva do Pensamento Sistêmico?


Podemos emitir três hipóteses. Primeira: o tema Pensamento Sistêmico, em si, é recente, por isso poderíamos considerar estar na fronteira dos atuais modelos de gestão. Por este motivo, as organizações podem já ter reconhecido sua importância e estarem, porém, ainda envolvidas na sua implementação. Segunda: Pensamento Sistêmico traduz um conceito razoavelmente abstrato, o que pode resultar na dificuldade de ser transformado em práticas operacionais concretas e factíveis em termos de implementação. 
E, por último, pode existir um certo receio da clara abertura que implica o Pensamento Sistêmico ao fomento de práticas que poderíamos qualificar de “caórdicas” (ou seja, que misturam momentos de relação e criação caóticos, com outros momentos de produção e implementação ordenados). O Pensamento Sistêmico significa, no fundo, que não se pode controlar uma organização como se controla um carro ou uma máquina, por esta ser um “sistema vivo”.

No que esse desconhecimento em relação do Pensamento Sistêmico implica na competitividade do País?


A pesquisa em si não demonstra ou traz este tipo de resultados ou consideração. Porém, podemos propor os principais impactos de uma “falta de Pensamento Sistêmico”. Em um ambiente cada vez mais complexo, caracterizado pelos fenômenos de globalização, hipercompetição, hiperinformação, redução dos ciclos de vida de produtos, serviços e processos, tornou-se imprescindível para as organizações ser constantemente capazes de inovar sob uma ótica sempre perfeitamente sustentável.
Em um contexto em que organizações não reconhecem e não praticam concretamente o conceito teremos, provavelmente, dois tipos de sintomas de grande impacto: a incapacidade crônica de inovar de forma constante e o não reconhecimento e a não minimização ou substituição dos processos, produtos ou serviços que são insustentáveis, não apenas de um ponto de vista econômico, mas também e principalmente de um ponto de vista sócio-ambiental. Não podemos esquecer que, no fundo, o lucro e a sustentabilidade financeira são como o ar que os seres humanos respiram: sem ele, simplesmente deixaríamos de ser, mas o nosso objetivo, a nossa razão de ser, não é com certeza apenas “respirar”. 

Qual a vantagem competitiva que uma organização pode ter ao adotar o Pensamento Sistêmico?


O Pensamento Sistêmico gera diferenciais decisivos nas quatro dimensões que foram eleitas no questionário. Nas relações internas e externas, o Pensamento Sistêmico catalisa relacionamentos formais e informais de colaboração entre as organizações e com a sociedade, apoiando a empresa no entendimento constante da dinâmica do mundo no qual vive. No aprendizado e inovação, o conceito fomenta a aprendizagem colaborativa constante da organização com as partes interessadas, sendo um elemento essencial dos processos de Gestão do Conhecimento e Inovação. Na visão de futuro, o Pensamento Sistêmico permite que organização sistematicamente contempla os impactos futuros das suas ações presentes, equilibrando as necessidades e responsabilidades de curto, médio e longo prazo (sendo o Pensamento Sistêmico, portanto, um elemento fundamental de todo planejamento estratégico que se queira voltado ao crescimento e a perenidade de uma organização). Na geração de valor, o tema permite às organizações potencializar seus ativos intangíveis (conhecimentos, práticas de gestão, marca etc.), além permitir sempre aumentar o grau de visibilidade (e logo, de responsabilidade) das questões sócio-ambientais.

Em qual das dimensões foi detectado a maior diferença? Por quê?


A maior diferença entre “reconhecimento da importância” e “prática concreta” do Pensamento Sistêmico se dá na dimensão “Geração de Valor” (uma diferença de 23%). Mais especificamente, nesta dimensão, o maior gap apontado pela pesquisa (35%) está na prática que consiste em “Privilegiar, frente a simples redução de custos, a busca por processos que usam melhor os recursos, sem agredir o ecossitema, para aumentar a eficiência operacional”. Esta diferença, provavelmente, retrata a quantidade das inovações que devem ser perseguidas para atingir concretamente um conjunto completo de processo que sejam 100% eco-eficientes (perfeitamente sustentáveis em termos energéticos, sem geração de resíduos, ou com reciclagem total dos mesmos, e que contemplam ainda valor agregado às comunidades de entorno e a sociedade). Uma ótima abordagem desta questão encontra-se no artigo O Próximo Imperativo Industrial, do Prof. Peter Senge, publicado junto a esta newsletter.

E a menor diferença, qual foi? Por quê?


Foi na dimensão “Aprendizado e Inovação” (um gap, mesmo assim alto, de 21%). Mais especificamente, nesta dimensão, a menor diferença apontada pela pesquisa (mesmo assim, de 22%) está na prática que consiste em “Estimular para que haja idéias e pensamentos diferentes em toda a cadeia, e não alinhar todos os funcionários em um único pensamento”. Apesar do gap ser estatisticamente menor (22%), devemos constatar que apenas 30% dos entrevistados reconhecem esta prática como sistematicamente implementada, ou “vivenciada” na sua organização. Este menor gap apenas indica um maior alinhamento entre a crença na prática e implementação da prática, mas não significa que esta seja a prática a mais implementada, de acordo com a pesquisa. 

Pela pesquisa, qual prática do Pensamento Sistêmico é a mais reconhecida e seguida concretamente?


61% dos entrevistados apontaram como efetivamente implementada a prática do compartilhamento dos desafios e metas entre funcionários da empresa.

Qual a posição do Brasil em relação a outros países que conhecem e adotam o Pensamento Sistêmico?


É difícil de responder objetivamente a esta pergunta, pois desconhecemos a existência de um estudo abrangente global desta natureza. Porém, podemos ressaltar que o Prof. Peter Senge não encontrou nenhum outro movimento pela qualidade e pela competitividade que tivesse feito um trabalho comparável ao trabalho que está sendo desenvolvido pela FNQ este ano sobre o tema.

Outra conclusão da pesquisa é que as empresas de pequeno porte entendem melhor o conceito de Pensamento Sistêmico do que organizações de médio e grande porte. Por que isso acontece?


Na realidade, a pesquisa mostra exatamente uma proporcionalidade significativamente maior de empresas de pequeno porte (menos de 100 funcionários) reconhece praticar mais o Pensamento Sistêmico de que empresas de médio e grande porte (mais de 100 funcionários). A diferença encontra-se na prática, mas não no seu entendimento. Uma hipótese para explicar este fenômeno, seria o fato das pequenas empresas serem mais naturalmente voltadas à “intensidade dos relacionamentos”. Afinal de contas, em uma pequena empresa, os relacionamentos são mais imediatos, mais próximos, mais informais, por ter uma quantidade de pessoas que permite que assim o sejam. Esta hipótese é interessante, na medida em que permite introduzir, nas organizações de grande porte, o conceito de Big-Small-Organization, a organização que seria ao mesmo tempo grande em quantidade de pessoas e complexidade de processos, mas pequena em termos de relacionamento, no sentido em que existiria a mesma informalidade, a mesma instantaneidade nos relacionamentos entre as pessoas (por meio, por exemplo, da utilização de Blogs Corporativos, Comunidades de Prática, Wikis etc.)

Quais serão as próximas ações da FNQ em relação a disseminação desta pesquisa?


Fizemos uma reflexão sobre o Pensamento Sistêmico no 6º Fórum Empresarial, realizado em junho em Campinas. Lá foram apresentados o resultado da pesquisa e convidamos o Prof. Peter Senge para mostrar a visão dele sobre o tema. A partir disso, vamos disponibilizar a pesquisa completa para download no Portal FNQ e reuniremos mais informações para uma publicação sobre o tema Pensamento Sistêmico que será lançado em agosto.

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