Equipe engajada é fundamental para auxiliar organizações durante períodos de crises e turbulências

O especialista em gestão e liderança, Didier Marlier, falou sobre o tema para FNQ em Revista.

 

O progresso tecnológico e a rapidez da comunicação em um mundo globalizado influenciam a gestão das organizações e as obrigam a repensar a forma como são gerenciadas. Somados a esse novo cenário, períodos de instabilidade socioeconômica e possíveis crises e turbulências tornam o desafio ainda mais complexo para as empresas contemporâneas. Para ajudar os líderes atuais a entender, e mais do que isso, incluir esses novos paradigmas em seus modelos de negócios, o especialista em gestão e liderança, Didier Marlier tem auxiliado organizações mundo afora nesta jornada. A FNQ em Revista entrevistou Marlier, que esteve em São Paulo para uma palestra na ESPM-SP sobre gestão e liderança em tempos caóticos. Belga-suiço, Marlier é sócios fundador da Enables Network, empresa de consultoria com atividades na Bélgica, Canadá, EUA, França, Brasil entre outros países. Ele é coautor do livro “Engaging Leadership”, que traz uma abordagem baseada em três pilares (Logos, Ethos e Pathos) para promover o engajamento dos lideres e de suas equipes.

 

Confira os principais trechos da entrevista, concedida com exclusividade à FNQ em Revista.

 

 

As organizações passaram ao longo da sua história por diversas crises e momentos de mudança na economia global, estamos passando por um período de turbulência mais complexo? Por quê?

 

Segundo o estudioso norte-americano Alvin Tofler, vivemos, durante a nossa história, duas revoluções, a primeira da passagem do nomadismo para a agricultura e, segunda, da agricultura para o mundo industrial. Atualmente estamos vivendo a terceira revolução – ou terceira onda – que é a do conhecimento. O mundo vive hoje uma crise de valores, o Brasil menos porque foi um País pouco afetado pela crise, mas essa crise de valores é muito visível nos EUA e Europa. Nos países mais afetados economicamente, como Grécia, Espanha e França essa mudança de valores é mais notada e mostra em sua essência a falência do capitalismo. Outra mudança de paradigma enfrentada pelas organizações é a chegada da geração Y porque é uma geração que não joga as mesmas regras do jogo. O avanço da tecnologia tem um impacto nas expectativas dessa geração que espera estar conectada.

 

Quais são as principais dificuldades encontradas pelas organizações contemporâneas ao planejarem a sua gestão em tempos difíceis?

 

Um dos maiores desafios da ortodoxia é a forma de ver o planejamento estratégico. A estratégia 1.0 é uma fotografia feita por líderes apostando e adivinhando o futuro. Como, atualmente, tudo muda muito rápido, o desafio da estratégia 1.0 é vendê-la na empresa e fazer com que toda a organização a siga. Hoje em dia o líder tem de engajar e deixar a organização se planejar e agir, para não correr o risco de fazer estratégias vazias que não terão mais sentido quando implantadas. O processo de estrategizar é um processo de “inteligentização,” desenvolvimento e engajamento na empresa em todos os níveis hierárquicos, fornecer a todos uma imagem e um entendimento sobre a estratégia da empresa, o propósito e sua missão.

 

Qual o papel do líder na estruturação de uma gestão capaz de enfrentar momentos de turbulência?

 

O primeiro desafio dos líderes é criar uma organização focada. Desafiar as ortodoxias, ou seja, leis e religiões fixas das organizações é outro ponto importante da liderança. Os líderes devem, em vez de reforçar as ortodoxias, fazer perguntas que desafiem essas ortodoxias e ter em mente que tem o papel de conectar e engajar os colaboradores. Os lideres e colaboradores brasileiros deveriam estar mais avançados do que estão e um dos fatores é o estilo de liderança brasileira, que promove a distância do poder. A distância do poder cria liderados passivos, esperando ordens enquanto da parte do líder cria uma arrogância, refletindo na gestão das organizações brasileiras.

 

De que forma o seu projeto, baseado na tríade grega Logos, Ethos e Pathos pode ajudar as organizações a enfrentarem momentos de turbulência?

 

O significado dos termos Logos, Ethos e Pathos foi criado pelo pensador Aristóteles e, que, segundo a sua filosofia, remete respectivamente à agenda intelectual, agenda comportamental e agenda emocional. Muitos líderes estão trabalhando na agenda intelectual, que continua fundamental pela sua clareza e inteligência. Entretanto, em vez de apenas dar ordens, os líderes devem incentivar a co-criação com os colaboradores. Já Ethos, significa ser autêntico, seguir o exemplo, comportamentos criadores de valores. Se o líder é arrogante criará uma cultura que segue essa premissa. O exemplo torna-se fundamental. Já engajamento ao nível do Pathos tem pouco a ver com inteligência emocional, e sim com a união da paixão com o racional na tentativa de equilíbrio. A liderança deve entender que liderar apenas ao nível do Logos não é fundamental. É necessário promover o equilíbrio.

 

Como engajar a equipe antes e durante os momentos de turbulência?

 

Eu diria que antigamente, no mundo linear, o líder era o responsável por “resolver” uma crise, hoje em dia o líder tem força, mas também é vulnerável e não mais um herói que vai tirar a empresa sozinho de um momento de turbulência. O líder deve estar conectado com seu time e ser capaz de mostrar a eles a sua vulnerabilidade, parar de achar que vai salvar a organização heroicamente. Está comprovado que a parte do cérebro que promove uma decisão não é parte racional, mas a emocional, portanto o líder que quer engajar seu time em momentos de crise deve deixar a emoção falar, obviamente apoiada pela lógica.

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