Entrevista com Carlos Faccina, diretor de Assuntos Corporativos da Nestlé

“O approach calculista já não basta para gerenciar o profissional do futuro”, revela Carlos Faccina, diretor de Assuntos Corporativos da Nestlé.

 

O que significa ser um gestor do futuro? Foi com essa pergunta em mente que o diretor de Assuntos Corporativos da Nestlé, Carlos Faccina, escreveu o livro “O Profissional Competitivo: razão, emoções e sentimentos na gestão”, obra lançada em setembro e que propõe uma nova maneira de olhar para os mesmos processos de gerenciamento, tornando-os mais competitivos.

 

Professor universitário das disciplinas de Metodologia Cientifica, Pensamento Econômico e Formação Econômica do Brasil e doutor em Ciências pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Faccina lança em sua obra um desafio aos gestores modernos: por que não agregar às tradicionais formas de gestão as antigas disciplinas das ciências humanas, como Filosofia, Sociologia, Psicologia e História? Somente elas ajudariam a integrar o saber técnico ao saber emocional, a considerar o profissional primeiro como ser humano, e depois como alguém capaz de ajudar a empresa a superar metas de faturamento.

 

Na Nestlé desde 1983, tendo trabalhado na Sede Mundial – Suíça, na área de relações humanas e assuntos públicos, o executivo conversou com a FNQ sobre os conceitos defendidos no livro. Confira:

 

No futuro, quais serão os atributos dos profissionais de sucesso?
Os valores humanos serão cada vez mais diferenciais no mundo corporativo. Ao lado do conhecimento técnico, intuição, sensibilidade e emoção já são requisitos do profissional moderno.

 

Que tipo de empresa será capaz de atrair e manter esses profissionais?
Aquelas que no lugar de se aterem apenas aos dogmas tecnicistas de gestão empresarial entenderem que as corporações são feitas de gente. Esta nova visão inclui um resgate da valorização das relações humanas e especialmente flexibilidade na análise dos profissionais, considerando condições inatas e a influência do meio sobre formação e desempenho dos indivíduos e assim encontrar uma outra forma de encarar e destacar os talentos.

 

Como unir o saber técnico ao saber emocional?
Envolver-se intelectualmente e emocionalmente em tudo o que faz é uma ação que permite o desenvolvimento do potencial criativo do profissional. Isso significa ser eclético, tanto na busca quanto na fonte do aprendizado.

 

Quais são as principais falhas dos modelos convencionais de educação gerencial e gestão de negócios?
Eles não vão além do saber técnico. Não que as práticas baseadas em pilares como Qualidade Total, Competências Gerenciais e Reengenharia possam ser condenadas, afinal, estes conceitos foram responsáveis por grandes mudanças nos últimos 50 anos. Mas estamos numa outra era, mais humana e lúdica, que exigem que razão e emoção sejam inseparáveis.

 

Como a compreensão da essência da biologia evolutiva pode contribuir para propostas de educação gerencial?
Temos que compreender que somos genética, meio social e cultural. Atingir melhores resultados empresariais e pessoais exige a constante capacidade de colocar em dúvida as verdades como se apresentam e fazer as perguntas ainda não formuladas. Este processo vai além das fronteiras acadêmicas como recursos humanos, finanças e marketing. Todo o conhecimento, incluindo genética, filosofia, sociobiologia e psicologia, pode contribuir tanto para as empresas alcançarem a gestão do desenvolvimento humano quanto para tornar o profissional de negócios completeto e competitivo.

 

O cenário que se desenha no início do século XXI aponta para uma completa revolução organizacional, na qual liderança não se limita mais às funções tradicionais de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Qual o papel do líder nesse novo contexto proposto pelo senhor?
O novo gestor deve ter outros valores agregados na sua atuação. Nas atuais gestões humanas existe um distanciamento das ciências. Outro fator esquecido em programas gerenciais é que o homem tem herança, emoção e sentimentos. Racional e emocional caminham juntos. Tento propor como referencial que o meio e o inato têm o mesmo peso.

 

Pós-graduação ou cursos de extensão em áreas das ciências humanas podem ser uma solução para o executivo que pretende evoluir como gestor? 
Com certeza. É preciso explorar novas trilhas e fronteiras do saber – desbravar terras incógnitas. O saber técnico e o calculismo não bastam. É preciso que as pessoas estejam integralmente engajadas – intelectual e afetivamente – naquilo que fazem.

 

De que maneira o aprofundamento em questões de caráter emocional contribui para o profissional tornar-se mais competitivo? 
A realidade demonstra que as diferenças humanas expressas pela emoção e sentimentos ocupam um lugar secundário no cotidiano das corporações. Na prática e nas estratégicas de mercado, os resultados dependem diretamente do conjunto de ações racionais e que são reveladas por emoções e sentimentos. Prevalece, ainda, a crença de que são elementos separados da racionalidade e, portanto, incapazes de influenciar a obtenção de resultados positivos. Dessa forma, a gestão assume um papel voltado aos resultados empresariais, sendo a principal forma de produção de riqueza social, ao agregar valor entre o homem e sua atividade profissional.

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