Somos uma nação realmente independente?

Por Marcos Bardagi, gestor da área de Portfólio, Operações e Conhecimento da FNQ

Neste 7 de setembro, comemoramos 194 anos de independência. Já em 2022, celebraremos nosso bicentenário. Falta pouco. Trilhamos um longo e árduo caminho, mas muito precisa ser feito para nos realizarmos como nação. Talvez antes do bicentenário. Tarefa hercúlea.

Uma nação independente não se vitimiza, busca as soluções para seus problemas reconhecendo os seus erros e não atribuindo culpa às “pressões internacionais”, como diria Leonel Brizola.

Uma nação independente identifica suas competências essenciais e alavanca seu crescimento a partir delas. E busca incansavelmente as competências necessárias que ainda não tem ou para as quais apresenta sérios “gaps”.

Uma nação independente tem senso de urgência apurado e eficiente gestão de riscos e não confunde governo com o Estado.

Faz o bem para o mundo (veja www.goodcountry.org), com preocupações legítimas e consubstanciadas em relação aos grandes problemas da Terra, incluindo a criação de alianças de sucesso. Neste ranking, como em tantos outros, o Brasil ocupa um modesto 47º lugar, desproporcional ao seu peso de uma das maiores economias do Mundo. É prejudicado por deter um absurdo 158º posto nos quesitos relativos à fluidez do comercio internacional e, também, por um pobre 98º lugar em ciência e tecnologia, por não apresentar bons números em relação a patentes, exportações de artigos científicos e estudantes. Sinal claro de nossa maior debilidade para a verdadeira independência: educação de qualidade.

Eu bem que gostaria de concordar com a jornalista Miriam Leitão, que em seu livro mais recente, A História do Futuro, traça um brilhante cenário do que já fizemos nos anos recentes e nos deixa uma mensagem de otimismo em relação ao que está por vir, baseando sua análise principalmente nos “ativos” evidentes que dispomos, as potencialidades que estão ao nosso alcance pela riqueza da biodiversidade e outras. Mas ainda não consigo. Porque a história nos ensina, principalmente na América Latina, que sempre desperdiçamos todas.

Nas recentes celebrações de bicentenários latino-americanos, a imprensa europeia lançou-se a uma análise profunda do que ocorreu com a independência de nossos principais vizinhos (Argentina, Chile, México, Colômbia, entre outros). Todos esses celebraram 200 anos de independência entre 2012 e 2015. Uma entrevista com o economista e político equatoriano Alberto Acosta resume:  "foi uma maldição ser abundante em recursos naturais”, conclui. “A riqueza do ouro, da prata, do zinco, do chumbo, do café e das bananas tornou tudo demasiado fácil para as elites e o investimento em educação e infraestrutura foram vistos como supérfluos". Se não mudarmos essa visão, não evoluiremos.

Gostaria de ver a discussão sobre quais são nossos valores. Quero discutir nossas intenções como nação e o que queremos impactar no mundo e em nossa gente. Quero adotar o “locus de controle interno” (ver Charles Duhigg), aquele que é condição para deixarmos de responsabilizar os outros e passar a virar o jogo a partir de nossa própria motivação e desejo.

A automotivação e a sensação de controle, de querer determinar e escrever o próprio futuro, é que garante a liberdade e, consequentemente, a independência. Não é só se contentar em fazer o suficiente, é fazer o excelente. A excelência é que gera a independência.

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