Equidade de gênero: em que pé estamos?

Iêda Novais, Conselheira da FNQ e presidente da Rede das Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade

É fato que a maioria da população brasileira é composta por mulheres e a sua participação é cada vez mais crescente no ambiente corporativo. Mas é verdade, também, que as desigualdades de gênero estão evidenciadas em promoções, remuneração e ascensão a cargos de liderança executiva e em Conselhos. Basta uma pesquisa rápida para se ter acesso a inúmeros dados que comprovam isso.

Christine Lagarde, diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que estamos demorando a entender que “há ganhos em poupança e produtividade para a economia dos países quando as mulheres têm acesso ao mercado de trabalho, ou seja, faz sentido econômico, além de uma questão moral” – e alguns indicadores mostram que esse movimento realmente tardará a acontecer.

De acordo com o “Global Gender Gap Report de 2015”, relatório do Fórum Econômico Mundial, somente em 2133 as mulheres receberão remuneração igual aos homens, ou seja, daqui a 118 anos. O Brasil, em 2015, caiu 14 posições no ranking de equidade de gênero. A queda refere-se, principalmente, a cargos no setor econômico e político, resultando na depreciação dos salários e na presença feminina em funções de chefia, especialmente nos tempos difíceis da nossa economia.

Contudo, há esperanças! As grandes organizações, na contramão das tendências apontadas em pesquisas têm desempenhado um papel crucial, minimizando as barreiras, discutindo e incentivando o sucesso profissional das mulheres. Desse modo, o nivelamento dos gêneros caminha para uma igualdade maior e favorece a sociedade como um todo. Líderes de expressivas empresas do mercado, sempre que possível, retomam a pauta sobre os diversos fatores que continuam a retardar o êxito das mulheres no mercado de trabalho, além das possíveis soluções.

Existe, ainda, uma herança cultural e social que inibe e afasta as mulheres de cargos de confiança, mesmo quando elas são capacitadas para ocupá-los. A exemplo, uma experiência americana proporcionou a participação do dobro de mulheres em uma orquestra sinfônica depois que os jurados fizeram a avaliação ouvindo os candidatos tocarem às escuras. Sem saber se o artista era homem ou mulher, a escolha por mulheres foi maior do que a de costume.

No Brasil não é diferente: dados apontam que entre as cem maiores empresas, apenas cinco têm mulheres na presidência. Em organizações de médio porte, a presença fica em 3% e poucas oferecem opção de jornada flexível para conciliar a vida pessoal. Essa dificuldade em organizar as duas rotinas - pessoal e profissional - é, certamente, outra grande barreira enfrentada pela maioria das mulheres.

Mais do que teorias e estudos, orientações sobre o que fazer em relação a essa disparidade, no entanto, são cruciais – e algumas iniciativas nascem neste sentido. No documento Plataforma 20, da Rede das Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade, por exemplo, estão alguns pontos importantes para apoiar o desenvolvimento de lideranças femininas visando à alta gestão das empresas e conselhos como: capacitação como forma de educação para sustentabilidade e liderança, além de dar visibilidade aos exemplos femininos de sucesso e depoimentos de CEOs que incentivam a conciliação da vida profissional e pessoal. 

Apenas com iniciativas poderemos avançar nessa questão. Esperar mais de 110 anos não é razoável. É hora das empresas, órgãos, associações e sociedade civil unirem-se e movimentarem-se em prol dessa mudança tão necessária.

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