As empresas e o clima

Flavia Resende, coordenadora de políticas públicas no Instituto Ethos

Para celebrar o Dia Mundial das Mudanças Climáticas, em 17 de março, nada melhor do que falarmos sobre os avanços recentes conquistados com o objetivo de, efetivamente, cuidarmos do nosso planeta.

O legado da COP 21, realizada no final de 2015, em Paris, é quase imensurável nesse sentido. Para mencionar alguns números, 196 países conseguiram definir o Acordo de Paris; mais de cem empresas passarão a usar metas de redução de gases de efeito estufa (GEE) embasadas cientificamente; mais de um trilhão de dólares será mobilizado por meio de aliança global para investimento em energia solar; e mais de 400 cidades definirão metas de redução. Ao todo, estima-se o surgimento de mais de 10 mil iniciativas.

O momento foi de euforia e muita criatividade para chegarmos a um objetivo único: manter o aumento da temperatura global em até 1,5 graus Celsius. Agora, mãos à obra! Se no ano passado o desafio era de traçar planos, pensar em estratégias e amadurecer indicadores para conhecer melhor como o mundo poderia conter os impactos da mudança do clima, o momento hoje - e para os próximos anos - é de agir. E as empresas não podem e nem devem ficar de fora dessa ação.

O próximo passo para o Acordo de Paris é sua ratificação por, pelo menos, 55 países, contabilizando, ao todo, 55% do total das emissões globais.

No âmbito doméstico, o Brasil fez um excelente trabalho de articulação internacional. Com uma delegação historicamente muito bem preparada para as negociações, o País assumiu um papel de liderança fundamental e apresentou uma contribuição nacional bastante ambiciosa.

Para quem ainda não está familiarizado com o jargão das Nações Unidas, cada um dos países signatários da Convenção do Clima apresentou sua INDC (Intended Nationally Determined Contribution), ou seja, o quanto reduzirá de emissão de GEE, até quando e como cada um contribuirá para o objetivo global de redução.

O Brasil comprometeu-se, em documento, a reduzir suas emissões de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025. Além disso, já antecipou uma contribuição subsequente de 43% (com base em 2005), até 2030 e apresentou como tais metas serão alcançadas: o País aumentará a participação de bioenergia sustentável em aproximadamente 18% até 2030 (etanol e biodiesel, por exemplo); fortalecerá o cumprimento do Código Florestal em todos os âmbitos; eliminará o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030; restaurará e reflorestará 12 milhões de hectares de florestas até 2030; alcançará participação de energias renováveis na matriz energética em 45% por meio de, dentre outras medidas, o aumento da participação de solares, eólica e biomassa. O documento também indicou meta para alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030 e fortalecer o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), incluindo a restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. Para os setores industrial e de transportes, não foram indicadas metas objetivas.

A sociedade civil, as empresas e o governo têm, portanto, a grande tarefa de entender como esses compromissos serão desdobrados em políticas públicas e legislações, em padrões e certificações, em custos e, principalmente, como essas intenções serão transformadas em ações reais para as empresas e como elas impactarão a gestão e a rotina das empresas.

O Instituto Ethos coordena o Fórum Clima desde 2009. Formado por um grupo de empresas pioneiras e muito engajadas com as questões de clima, o grupo surgiu com o objetivo de participar, de forma complementar à sociedade civil e aos governos, na transição para uma economia de baixo carbono.

Em 2015, o grupo revisou e ampliou compromissos de redução das emissões de GEE e apresentou propostas de ações para os governos, nos âmbitos nacional e internacional. Por meio da Carta Aberta (2015), empresas de diversos setores comprometem-se com ações relacionadas à precificação de carbono, à descarbonização da economia e ao apoio às atividades que não incentivem o desmatamento ilegal, de forma a contribuir para o desafio de transformação na nossa economia. Para conhecer os signatários da Carta, visite: http://forumempresarialpeloclima.ethos.org.br/o-forum/carta-aberta-ao-brasil-2015/.

Em 2016, o grupo mantém seu empenho de acompanhar e ajudar a implementação das metas apresentadas pela contribuição brasileira. Na prática, estamos construindo uma plataforma de monitoramento dos compromissos e como isso será incorporado pela gestão dessas empresas.

Uma discussão bastante estratégica e central que vem se fortalecendo desde 2014 é relacionada à precificação de carbono, ou seja, quanto custará uma tonelada de CO2? Qual será o valor disso no mercado? Quem transacionará essas commodities? E quais serão os instrumentos utilizados - estamos falando de um mercado estruturado internacionalmente? Domesticamente? Ou um imposto? Enfim, a discussão é vasta e ainda existem muitas incertezas. Mas, de forma coordenada e completa, o Fórum Clima vem engajando não somente as empresas, mas também outras iniciativas similares, para tentar responder tais questões.

Desde 2015, o Instituto Ethos compartilha a Secretaria Executiva da IEC – Iniciativa Empresarial em Clima, com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), onde diversas organizações unem-se em busca de soluções comuns e fortalecidas para questões tão complexas. A IEC é composta por outras organizações que vem se engajando no tema de mudança do clima no setor empresarial. São elas: Ethos, CEBDS, CDP, GVces, Pacto Global e Envolverde.

Por meio de um esforço coletivo, as empresas não somente acompanharão o que está acontecendo no Brasil em relação à mudança do clima, mas também serão protagonistas nessa mudança para uma economia mais sustentável e de baixo carbono. 

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