Em que planeta você vive?

Armando Dal Colletto, Diretor Executivo da ANAMBA - Associação Nacional de MBA, membro do conselho do PRME (Principles for Responsible Management Education) no Brasil e membro do comitê internacional do programa EDAF do EFMD – European Foundation for Management Development. Membro do Climate Reality Project e coordenador do Núcleo de Sustentabilidade da FNQ.

Na Semana Mundial do Meio Ambiente, entrevistamos o Diretor Executivo da ANAMBA, Armando Dal Colletto, que analisa o papel das organizações para a mudança da atual realidade ambiental e opina sobre o futuro do planeta e da humanidade.

Confira e compartilhe a sua opinião nos comentários.

Como as organizações podem incentivar os seus colaboradores a se preocuparem com o meio ambiente, tanto em suas vidas pessoais, como na rotina da empresa?

As pessoas regem as organizações e são, ao mesmo tempo, regidas por elas. A interação entre todos os níveis cada dia mais é a chave do sucesso. Essa compreensão, juntamente com a visão de que o mundo é complexo, permitirá que as lideranças percebam a correlação altíssima entre vida pessoal e profissional. Os valores e atitudes são os mesmos. Educar e estimular essa preocupação reverterá em todas as frentes. Todos serão beneficiados.

E como a sociedade pode incentivar as empresas a serem mais sustentáveis?

A sociedade, assim como as empresas, são as próprias pessoas. Os líderes têm a responsabilidade de, além de adotar valores e atitudes favoráveis ao meio ambiente, estimular sua propagação, recompensar os que contribuem e, punir os que não o fazem. Os governos e os legisladores, para acelerar esse processo, que poderia ter seu curso natural pela conscientização e educação, precisam criar mecanismos pressionadores e, em alguns casos, estímulos para favorecer as transições.

Estamos passando por uma das piores crises hídricas da história e, ainda assim, muitos não mudaram as suas atitudes. Como as organizações podem contribuir para alterar essa realidade?

As mudanças, principalmente as emergenciais, são bem trabalhosas. Romper a inércia de comportamentos e atitudes inapropriados é mandatório. A crise hídrica é o resultado de uma série deles, acumulados através de anos. Agora, é necessário agir e tentar recuperar um novo equilíbrio oferta/demanda de recursos. A principal contribuição das empresas é disseminar essa compreensão entre todos, de colaboradores a clientes. Deve, pelo seu lado, orquestrar mudanças em processos, produtos e serviços alinhados ao novo cenário e mostrar uma nova cara. Não se trata de uma opção estratégica e, sim, de uma adaptação necessária para sobreviver no longo prazo.

Quais medidas as organizações podem tomar para melhorar o futuro do planeta?

As organizações, por representarem um coletivo, podem tomar medidas cujos resultados certamente impactarão bastante. O fato de uma empresa permitir que seus colaboradores trabalhem remotamente pode significar uma economia de recursos e aumento de produtividade. Avaliar o impacto ambiental de todas as suas operações e processos produzirá efeitos semelhantes. Porém, as medidas de impacto no ambiente externo podem, também, ser lideradas por elas e transformar hábitos de consumo e agressão ambiental. Pensar sempre de forma mais abrangente e buscar a sustentabilidade durante as decisões empresariais melhorará o futuro do planeta e a imagem da empresa.

Como a inovação pode contribuir para que as organizações e a sociedade passem a agir de forma mais sustentável e a agredir menos o ambiente em que vivemos?

A tecnologia e a inovação são componentes essenciais. A combinação de valores e atitudes sustentáveis, com a busca da inovação, gerará grandes contribuições. Inovação é exatamente o uso mais produtivo e efetivo de algo que não foi, obrigatoriamente, inventado no momento, mas consegue a aplicabilidade que revolucionará processos, produtos e a maneira de como a sociedade vive e interage. Temos vários exemplos e essa frente explodirá nos próximos anos. A meu ver, é a grande fonte de substituição de recursos exauridos ou que envenenam o meio ambiente.  Sem ela, não reverteremos a tempo, tamanha a agressão já ocorrida.

Movimentos da sociedade defendem que as empresas devem ter um papel de liderança frente às mudanças climáticas. Qual a sua opinião sobre essa posição e o real papel das empresas?

Infelizmente, a frase “em que planeta você vive?” é muito atual. Poucos se lembram que vivemos no mesmo planeta e que, portanto, estamos no mesmo “barco”. “Evangelizar”, nesse sentido, é extremamente necessário, pois a unanimidade dos cientistas já demonstrou que as consequências já estão nas nossas vidas. Seja por aquecimento global, furacões, secas e outros fenômenos climáticos. Mergulhar no microcosmo do trabalho nos faz lembrar disso apenas no momento em que um grave fato ocorre. As empresas devem, sim, repensar as consequências de suas operações nas mudanças climáticas e buscar como minimizá-las, seja revendo sua logística, suas matérias-primas, inserindo maior mobilidade no trabalho ou seu portfólio de produtos.

Na sua opinião, existe salvação para o planeta?

O planeta vai sobreviver como vem fazendo há muito tempo. A dúvida é no que se refere à humanidade! Ela vai ter que evitar o seu desaparecimento como já ocorreu com outras espécies. Se os homens, com toda sua capacidade se adaptarem a esse novo cenário climático, prosseguirão no planeta. Caso contrário, o planeta seguirá seu caminho sem eles. 

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