A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) conta com um Núcleo de Estudo Gestão da Inovação que busca desenvolver debates e aprofundar conhecimentos sobre o tema que está disseminado nas mais diversas áreas. Para entender como a inovação é aplicada na educação, a FNQ entrevistou Paulo Presser, gerente do Senac-RS, e Francisco Ximenes, diretor de unidade Floresta do Senac RS. Abaixo, um resumo da conversa com respostas construídas pelos dois entrevistados, que mostram um pouco de como a Instituição busca a inovação no âmbito interno e a importância de ações inovadoras para melhorar a qualidade do ensino e a competividade do Brasil.

Como surgiu a ideia de buscar inovação nas ações do Senac RS?

O Senac-RS tem como missão educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo, setores econômicos que representam quase 70% do PIB nacional. Nesse sentido, é papel da instituição levar às pessoas e empresas desses segmentos as melhores práticas de gestão e propostas de formação profissional, como forma de instrumentalizá-las para a obtenção dos melhores resultados, nas dimensões humanas, tecnológicas e de mercado. É nesse contexto que o Senac-RS insere sua busca pela inovação.

A inovação foi pensada por conta de um problema ou uma demanda específica?

A principal expectativa em relação à Inovação é tornar efetivas e sistemáticas as iniciativas e ações inovadoras em âmbito corporativo, com atuação focada na criação de valor diferenciado para o setor de comércio de bens e serviços. Essas ações são desenvolvidas na busca constante do aperfeiçoamento no modelo de negócio, nas tecnologias educacionais e nos serviços educacionais entregues aos nossos clientes.

A inovação já se encontra dentro do sistema educacional do Senac-RS ou somente na sua gestão?

O Senac-RS é uma instituição de 68 anos, com reconhecida qualidade na educação para o trabalho, fruto da busca constante da atualização de seus serviços às necessidades de seu mercado de atuação. No contexto atual, a ênfase dada à inovação tem a finalidade de criar espaços e metodologias organizacionais que permitam a geração estratégica de conhecimentos inovadores, com impacto tanto no âmbito de sua gestão interna, como na percepção de seus clientes.

Como é aplicada a gestão de inovação dentro do Senac-RS?

No âmbito interno, tem destaque o sistema de trabalho estabelecido pelo Senac-RS. Por meio de uma estrutura organizacional desenvolvida à semelhança de um organismo vivo, denominada Ecograma, cria-se um ambiente facilitador da interação entre às diversas áreas e níveis hierárquicos, estimulando o fluxo de comunicação nos sentidos verticais, horizontais e transversais. Merece destaque também os Comitês Assessores de Inovação e de Internacionalização, além do Edital de Inovação, receptor de projetos de pesquisa e inovação oriundos de toda a rede Senac-RS. Também no âmbito interno, outra iniciativa para a gestão da inovação foi a criação dos Comitês Técnico Setoriais, que constituem-se em grupos de trabalho intersetoriais e interdisplinares, envolvendo clientes, entidades representativas empresariais e de trabalhadores, órgãos públicos e técnicos do Senac. Esses grupos têm por finalidade o aperfeiçoamento e desenvolvimento dos serviços educacionais da entidade, representando um amplo espaço de criação compartilhada de valor para o comércio de bens, serviço e turismo. 

Considerando o cenário atual brasileiro, qual a importância da Inovação no sistema educacional nacional?

O cenário brasileiro tem-se caracterizado por uma grande mobilidade social, que, segundo dados da FGV, tem possibilitado o crescimento sistemático nos anos de escolaridade da população, em especial os de baixa renda. Considerando a correlação existente, como comprovam pesquisas do economista da FGV, Marcelo Neri, entre o crescimento de escolaridade e o crescimento da renda, percebe-se a importância da educação para o desenvolvimento e qualidade do capital social. Mas se tem conhecimento, também, que os indicadores de qualidade do ensino têm deixado a desejar, como comprovam os índices de evasão, por exemplo, que hoje ainda são três vezes superiores aos de países europeus, concentrando-se principalmente entre a população jovem. Nesse cenário a educação inovadora é fator primordial para alavancar a qualidade do ensino e melhorar a competividade do país. Por meio da geração do conhecimento podemos criar inovações tecnológicas. Neste contexto, as inovações geradas no ambiente acadêmico devem contribuir para o desenvolvimento de pesquisa aplicada no setor produtivo.

Quais ações inovadoras precisam ser pensadas para a melhoria da educação no Brasil?

Levando-se em conta o perfil da população prioritária para os investimentos em educação, consideramos que são necessárias ações inovadoras que favoreçam fundamentalmente os aspectos relativos à inserção social, tecnológica e econômica. Para tanto, deverão ser desenvolvidas estratégias que envolvam tanto o ambiente intraescolar, quanto o ambiente da sociedade como um todo. Essas estratégias deverão ser fortemente apoiadas pelos recursos tecnológicos que dispomos atualmente, facilitadores do desenvolvimento compartilhado de conhecimento. Entendemos também que as iniciativas devem estar voltadas para a sustentabilidade. Nesse aspecto, o Brasil precisará investir mais do seu PIB em inovação, buscando parceira pública e privada. Outro fator importante está ligado à adequação de propostas para a formação de perfis profissionais ajustados à demanda de mercado.