Conheça os desafios da sustentabilidade no mundo corporativo

Na entrevista deste mês, a coordenadora de Sustentabilidade no Grupo Fleury, Elisangela Torres de Araujo, fala da importância de criar metas, indicadores e compromissos públicos em que a empresa consiga devolver externalidades positivas para a sociedade

Além dos programas com foco em meio ambiente, o Grupo Fleury também conta com programas sociais e iniciativas em governança corporativa. O tema sustentabilidade está na agenda estratégica da empresa, que tem desenvolvido rodadas de engajamento com stakeholders e procurado aproximação dos demais atores dessa cadeia para a construção de iniciativas conjuntas.  Nesta entrevista, a coordenadora Elisangela fala sobre a sustentabilidade com uma perspectiva de protagonismo social.

FNQ - O tema sustentabilidade tem ganhado força nas empresas nos últimos anos. As organizações entendem realmente o que é sustentabilidade?

Nos últimos anos, tivemos um movimento empresarial e da própria sociedade civil em relação a este tema. As pessoas sentem necessidade de trabalhar com a sustentabilidade, principalmente, na vertente ambiental. Mas quando olhamos para o cenário empresarial, do ponto de vista global, acredito que existem grandes corporações que têm trabalhado a sustentabilidade não só no âmbito da estratégia de seu negócio, mas também como uma forma de identificar externalidades positivas que podem ser geradas para a sociedade. Acho que existe um caminho longo a ser trilhado quando olhamos para o cenário brasileiro, já que há uma necessidade de esclarecer e conscientizar o que é o desenvolvimento sustentável nas empresas.

FNQ - De que maneira é possível trabalhar a sustentabilidade nas empresas?

Existe um movimento grande para trabalhar os conceitos de sustentabilidade voltados para as questões e estruturas do negócio.  Algumas ferramentas já auxiliam as empresas a colocarem a sustentabilidade dentro da sua operação: auditorias; a ISO 14.000; certificações e o próprio report de ações sustentáveis por meio do GRI. O que percebemos é que algumas empresas trabalham conceitos triviais de sustentabilidade, mas não conseguem criar uma agenda proprietária de seu negócio, de forma que a sustentabilidade não seja uma agenda paralela.

FNQ - O que está faltando para as empresas brasileiras estarem mais engajadas?

O que falta é a base da formação dos líderes para a aplicação da sustentabilidade como parte das estratégias. Algumas empresas brasileiras utilizam receitas prontas e o tema sustentabilidade requer um olhar mais holístico, de observação de diversas vertentes e variáveis atuando em conjunto. O modelo de capitalismo clássico tem apenas retorno de curto prazo e não busca a perenidade. Existe uma necessidade visível de mudança desse modelo capitalista, caso contrário, não conseguiremos uma aplicação do conceito de sustentabilidade ao negócio. Para deixar de lado essa visão e torná-la parte de sua estratégia, é fundamental investir na formação de líderes. Essa mudança é natural se você tem um gestor com olhar no futuro, que leva em conta os diversos valores voltados para o ganho cooperativo e coletivo.

FNQ - E quais os cuidados que as empresas devem tomar para não confundirem sustentabilidade com greenwashing?

Só é possível ganhar credibilidade quando você insere os temas de sustentabilidade nas decisões estratégicas da organização. Esse tema tem de ser tão relevante quanto os novos indicadores econômicos, as margem de lucro ou a expansão dos negócios para os próximos anos. O grande diferencial, de fato, é quando você consegue traduzir os temas da sustentabilidade para as especificidades do negócio e, a partir disso, criar metas, indicadores e compromissos públicos.

FNQ - Qual mensagem você deixa aos novos “líderes sustentáveis”?

O grande desafio dos líderes, hoje, é conseguir engajar as pessoas em prol do movimento de transformação. Existe uma jornada a ser trilhada e o grande legado que os líderes podem trazer é fazer, na prática, o exemplo da sua teoria.

FNQ - As empresas que não mudarem deixarão de existir?

O que leva algumas empresas a serem resistentes é o fato de elas olharem para a sustentabilidade como um tema caro ou acreditarem que não é para o seu perfil, por serem de pequeno ou médio porte. Participei de um debate no final de 2013 e uma pessoa perguntou se a empresa que é mais sustentável é mais lucrativa, pois muitos só querem investir se houver lucro. A resposta para essa questão é que não sabemos o retorno no lucro, mas a organização se torna mais perene. Hoje, temos uma sociedade mais crítica, em que as pessoas optam em comprar um produto em detrimento de outro por saberem a procedência ou virem a preocupação da empresa com a sustentabilidade. Recentemente, a Ideia Sustentável, consultoria especializada, lançou um novo estudo sobre a aplicação da sustentabilidade para microempreendedores. É uma forma de mitigar o tabu de que a sustentabilidade tem de ser um tema absorvido somente pelas grandes corporações. A sustentabilidade, muito mais do que parte de um negócio, deveria fazer parte da nossa cultura e isso deve acontecer também em outros papéis que exercemos na sociedade.

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