“Falta fazer o básico”: A qualidade da gestão do marketing no Brasil em debate

A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) acabam de criar o Núcleo de Estudos Temáticos sobre o Marketing, com o objetivo de debater a qualidade da gestão do marketing realizado pelas organizações brasileiras nos cenários atual e futuro. Entrevistamos o coordenador técnico deste recém-criado núcleo e Líder da área de Marketing na ESPM, Prof. Dr. Marcelo Pontes, para entender os objetivos da iniciativa, o diferencial do projeto e ainda se o marketing produzido no Brasil está cumprindo a sua missão de satisfazer os clientes.

Qual o objetivo principal do Núcleo temático de Marketing?

O resultado mais recente do Índice Nacional de Satisfação do Consumidor (INSC), divulgado em Maio/2013 e realizado pela ESPM, mostrou que a satisfação do consumidor é de 53,5%, o que, grosso modo significa que metade dos consumidores brasileiros está insatisfeita. Esse resultado comprova que se um dos objetivos do marketing é satisfazer o consumidor e metade desse grupo está insatisfeito, o objetivo não está sendo cumprido, ou seja, não estamos fazendo tudo o que podemos. Sendo assim, o objetivo principal do grupo será discutir como está a gestão de marketing no Brasil e, evidentemente, a partir daí, tentar entender o que pode ser feito para melhorar.

Quais serão os temas tratados pelo núcleo?

Na verdade seria um tema, que é tudo aquilo que engloba a questão da gestão de marketing. Então, de maneira ampla, sem segmentar por tipo de indústria, tipo de setor, o marketing da maneira mais ampla e como que ele pode e deve ser desenvolvido nas empresas.

Qual o diferencial deste projeto?

Na verdade vamos tentar aprofundar essa discussão de como que está o marketing hoje no Brasil, dissecando e desconstruindo – para depois construir – alguns conceitos de marketing, mas fundamentalmente aprofundar o debate e, posteriormente, aplicar uma pesquisa mais ampla com base nos resultados alcançados e identificar na prática como está essa gestão. Não é um trabalho feito apenas dentro do núcleo, a base será desenvolvida pelo grupo de especialistas, mas depois o objetivo é envolver as empresas até para termos uma opinião mais clara na maneira mais ampla possível sobre como a prática do marketing se dá, de fato, no ambiente das organizações. O objetivo do núcleo não é apenas o viés teórico, já que o marketing é uma ciência aplicada, que só tem sentido quando resulta uma prática.


Qual a importância, nos dias de hoje, das empresas reunirem-se para pensar novas abordagens e estratégias que possam gerar valor às organizações e à sociedade?

Acredito que essa é uma prática que tem de ser realizada, sempre em qualquer situação. Assim como um artista tem de ver outros filmes e outras peças de teatro; um músico tem de ouvir outras músicas. É importante para as empresas ouvirem outras empresas, se não fica algo muito autógeno e muito de si mesmo. E importante ouvir a opinião dos outros, ser provocando por outras pessoas e ainda questionar-se. Porque esta troca de informações por si só tem uma riqueza absurda. Eu gosto da ideia de que aquilo que te provoca, aquilo que te desafia e te questiona é também o que te leva para frente. A importância das empresas ouvirem outras organizações e serem desafiadas é, num primeiro instante, ouvir, num segundo instante refletir, e num terceiro instante, agir em cima da reflexão feita. O elogio faz muito bem para o ego, mas na verdade não ajuda já que mostra apenas para você continuar sendo o mesmo, quando na verdade o mundo é dinâmico e rápido o suficiente, desde sempre, então não dá para não ficar parado. Para não ficar parado, é importante ouvir o que as outras empresas e instituições estão fazendo.
A construção de uma visão holística, combinada à opinião de outras pessoas, é sempre salutar.

Pela sua experiência, na liderança de estudos sobre marketing, como professor e estudioso da área, quais questões devem ser prioridade nas organizações, envolvendo o marketing e a comunicação?

A questão fundamental de marketing tem sido tentar fazer com que aquilo que é a estratégia ou aquilo que é desenvolvido em termos de estratégia chegue na operação; a maior parte dos problemas de marketing, de insatisfação do consumidor não está ligada a questões fundamentais, não são questões de grande dimensão. Do ponto de vista da compreensão do consumidor e da sua satisfação, de tratá-lo com mais cuidado e de respeito e ter atitudes proativas na solução dos problemas que ele traz, me parece que é onde o marketing no Brasil é mais problemático. Acredito que exista uma desconexão, atender o consumidor no Brasil me parece apenas um discurso e uma carta de intenções, na ponta do processo, em boa parte das vezes, não está sendo realizado.


De que forma a ESPM pode colaborar ao grupo de estudos e para a FNQ?

A ESPM tem muito orgulho da escola, é uma referência na área de marketing e comunicação no Brasil e esta qualidade foi conquistada nos seus 62 anos, sempre foi voltada para o mercado, com uma característica de circular e abrir suas portas para as empresas. A colaboração que podemos trazer para o grupo é, não apenas os estudos, pesquisas e metodologias que a escola desenvolve, mas principalmente vamos ganhar muito ao ouvir e ser provocado. E é exatamente deste questionamento e desta provocação que a gente espera obter uma visão que pode auxiliar bastante as empresas que terão contato com esse trabalho.

 

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