Dia Internacional contra a Corrupção

"A corrupção e a falta de ética no País têm solução", diz Jairo Martins, presidente executivo da FNQ

No dia 9 de dezembro é celebrado o Dia Internacional Contra a Corrupção. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para marcar a assinatura, pelo Brasil e mais 101 países, da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, em 2003, na cidade mexicana de Mérida. Para o presidente executivo da FNQ, Jairo Martins, a corrupção impacta  a produtividade das organizações, traz má reputação e isso aumenta os impostos, a insegurança jurídica e a infraestrutura é defasada.
 
O tema da corrupção é tão urgente e importante nos dias de hoje que a FNQ dedicou-se a discuti-lo no Congresso FNQ de Excelência em Gestão (CEG). O evento se propôs a debater a Governança, Ética e Transparência nas organizações.
 
Estima-se que o valor desviado dos cofres públicos esteja entre R$ 79 e R$ 137 bilhões, ou seja, aproximadamente 2% do PIB brasileiro. A Revista Excelência em Gestão traz uma análise detalhada das consequências da Lava-Jato e outros esquemas de corrução deflagrados. Na reportagem, entenda como imagem do Brasil foi manchada, afastando investidores de terras brasileiras, dificultando a recuperação econômica do País.
 
Agora, confira a entrevista com Jairo Martins, da FNQ. Para o executivo, apesar de estarmos vivendo uma crise política, econômica e ética, "o brasileiro alcançou um novo patamar civilizatório e, silenciosamente, está se movimentando contra esta pilantragem que tomou conta do Brasil."
 
2017 foi um ano muito importante para o Brasil, no que se refere ao combate à corrupção. Na sua opinião, quais foram os grandes legados e aprendizados nesse sentido?
 
As crises sempre trazem aprendizados para quem está disposto a melhorar. A grande oportunidade, que pode se transformar em um grande legado, é o reconhecimento de que todos temos culpa nesse processo de negação dos nossos valores: nós, cidadãs e cidadãos, porque fizemos escolhas erradas; os governantes e os políticos, que, pela incompetência gerencial, utilizaram-se da corrupção para conseguir os seus objetivos pessoais; os empresários, pela convivência ao aceitar as regras sujas impostas pelos políticos. Se não estivermos abertos a utilizar estas lições aprendidas para resgatar os valores perdidos e, com isso, a confiança interna e externa no Brasil, o nosso futuro estará ameaçado.  
 
Você tem afirmado que o País passa por um” hiato de gestão”, apesar de termos ferramentas e plataformas à disposição. Pode explicar melhor essa afirmação?
 
Os fundamentos da excelência estão disponíveis mundialmente. No Brasil, temos instituições sólidas, como a FNQ, que têm a missão de capacitar e orientar as organizações para que busquem continuamente a excelência por meio da melhoria da sua gestão. A Plataforma de Gestão da FNQ, o MEG, é aderente a organizações de qualquer setor, natureza e porte, públicas e privadas, inclusive, governos. É uma questão de atitude e vontade. Se estamos assim, no fundo do poço, com crises para todo lado, é porque os nossos líderes não querem compromisso com a boa gestão. Portanto, este hiato proposital.
 
De que forma a corrupção, instaurada nas instituições públicas e privadas, prejudica a competitividade do País?
 
Ser competitivo é ser a escolha. É simples assim. Se não o somos é porque estamos pecando em alguma ou em várias coisas, principalmente em termos baixa produtividade, má reputação e por não termos um ambiente favorável a negócios, com elevada burocracia, altos impostos, alta insegurança jurídica e infraestrutura defasada. Isso impacta diretamente no “Custo Brasil”, que agora foi inflado pelo “Custo Corrupção”, no que somos “benchmark internacional”. É lógico que todos esses custos serão repassados para os produtos e serviços, prejudicando a competitividade do Brasil, deixando-nos fora das cadeias produtivas internacionais. No último ranking publicado pelo Banco Mundial, no dia 1º de novembro último, sobre ambiente para negócios, com 190 países avaliados, o Brasil caiu mais duas posições em comparação a 2016, passando para o 125º lugar - temos a pior colocação entre os BRICS e entre os países do MERCOSUL.
 
Como as empresas têm se movimentado em relação a ações anticorrupção?
 
Não há dúvidas de que esta crise de valores afeta todo mundo. Há uma maior conscientização das empresas e da sociedade para os delitos, sejam grandes ou pequenos. Infelizmente, a ficha ainda não caiu para a maioria dos políticos e governantes, que continuam a se utilizar dos mesmos expedientes que nos deixaram no fundo do poço: compra de apoio, negociação de cargos, aparelhamento de ministérios, secretarias e estatais com incompetentes e despreparados, vai e vem de malas de dinheiro sem explicações etc. Mas o ponto positivo é que o brasileiro alcançou um novo patamar civilizatório e, silenciosamente, está se movimentando contra esta pilantragem que tomou conta do Brasil.
 
Na sua opinião, quais têm sido as medidas anticorrupção mais eficientes no Brasil?
 
As empresas estão revendo os seus códigos de conduta ética e estão em um processo de disseminação em todos os níveis, desde o conselho de administração até os níveis operacionais. Esses mecanismos são conhecidos, só precisam sair das prateleiras, deixando de ser meramente decorativos, para a prática. Além da disseminação, a punição deve ocorrer severamente. A pergunta que fica é: quando os políticos e governantes levarão tudo isso a sério?
 
Você acredita que a corrupção e a falta de ética no Brasil têm solução?
 
A grande dificuldade que temos é o baixo nível de educação que, propositadamente, foi deixado assim. Isso teve início na Era Vargas e alastrou-se como uma peste até hoje. O que nos resta é que o brasileiro incorpore a postura cidadã e tenha a ética e a transparência como princípios, a começar na sua casa. É preciso deixar de sermos passivos, nos indignarmos mais e cobrar dos líderes, públicos e privados. Temos de nos posicionar. Já estragamos o Brasil demais. A corrupção e a falta de ética no País têm solução e fazermos boas escolhas nas eleições de 2018 já seria um bom começo para este processo de transformação do qual precisamos.
 

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