Crônica de uma crise anunciada

Por Marcos Bardagi - Chief Operations Officer da FNQ

Por Marcos Bardagi - Chief Operations Officer da FNQ

Podemos ficar discutindo as causas estruturais da crise de abastecimento que estamos enfrentando: nossa infraestrutura decrépita, sistema tributário caótico, dependência de uma única modalidade de transporte de cargas, capitalismo de compadrio e por ai ficamos até a bola rolar na Rússia. É saudável, pode ser até divertido, mas encontrar soluções para estes temas resolverão, ou atenuarão, as próximas crises, da década seguinte talvez, não esta. Será louvável buscarmos estas respostas estruturais, de fundo, mas o curto prazo neste caso é urgente, e demanda outro tipo de ação. Precisamos atacar rapidamente o que é situacional, do momento.

Esta crise não é um terremoto, um tsunami ou um outro fenômeno natural, quase que imprevisível e que, quando surge, em pouco tempo emerge em toda a sua brutalidade. Este é o tipo de crise que é construída aos poucos, em que os sinais de alerta são visíveis com antecedência, em que há tempo de preparo, em que há tempo suficiente para que se organize algum tipo de reação. Basta que se tenha em funcionamento um dos fundamentos da boa Gestão: Governança. Tenho dito que a melhor definição de Governança é que ela deve ser vista como anteparo de crises. Uma boa Governança é aquela que tem um bom sistema de monitoramento de variáveis críticas (níveis de estoque, por exemplo) em constante observação e dispara ações mitigatórias sempre que necessário. Não vimos nada disso em funcionamento. Por que não?

Isto é o que me intriga e decepciona.

Negligenciamos uma lógica superior,  cada vez mais evidente à medida em que avançamos para o aumento da complexidade de nossos sistemas, do nosso tecido social: É preciso trabalhar e organizar macroestruturas coordenadas que façam o combate a situações que perpassam diversas áreas de responsabilidade e feudos organizacionais de forma centralizada. A informação tem de fluir rapidamente, sem gargalhos e deve ser precisa, não ambígua. Exemplo: Temos bloqueio de estradas federais ? Muito bem. Quem faz o que? Policia rodoviária federal, ministério dos transportes, concessionárias de rodovias, órgãos reguladores, ...quem coordena, onde está o plano de ação conjunto? As responsabilidade estão definidas? Com qual velocidade conseguimos desencadear ações e obter respostas neste processo? Parece-me que nada disso está pensado, menos ainda estruturado.

Enquanto um lado se organiza via aplicativos e explora benefícios de uma tecnologia cada vez mais ubíqua, o outro se perde em pautas atravancadoras de decisões, rituais de reuniões e interesses pessoais de quem quer estar em um lugar por razões particulares, mas deveria estar em outro em nome do bem comum.

Assim ficaremos parados por muito tempo na escuridão, sem luz no fim do túnel.

Gestão, mais gestão!  

 

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